terça-feira, 3 de maio de 2016

A Cruz do meio

Myrtes Mathias Ergue-se a cortina do tempo. Um bebê entre palhas, sorri, Uma virgem chora, um ancião contempla... Depois... Uma mãe ansiosa que procura o filho, Um adolescente que responde: "preciso cuidar dos negócios do meu Pai". Desenrola-se a cena: Um homem no jordão, no deserto, na Galileia, Samaria; Paralíticos andam. cegos veem, mortos ressuscitam, infelizes encontram consolo! A cortina abre-se por completo: Três cruzes! Três símbolos de humilhação, culpa e dor. Quem está à direita? Um criminoso arrependido; À esquerda? Um revoltoso, um réu recalcitrante. E no meio? Alguém que não se queixa, que sofre em lugar dos outros, que tem nos olhos tristes, a luz do perdão, e na cabeça pendida, um gesto de benção. Por quem corre aquele sangue? Pára! Olha! Medita! A cortina rasgou-se de alto a baixo: um bebê entre palhas, um adolescente entre doutores, um homem no Jordão, no deserto, na Galiléia, em Samaria... Depois... Caminha mais um pouco. O que vês? Três cruzes! Na do meio um homem que morre por ti. Contraste! O homem que morre é o Deus que te ofereceu a vida. Pensa! Medita! Aceita! Aceita o bebezinho entre palhas, o adolescente entre doutores, o homem que faz milagres. Esta cruz do meio! Pesada e negra cruz da infância, do sofrimento, da humilhação de um Deus. De um Deus que ama, perdoa e diz: "Hoje estarás comigo no Paraíso". Nada era dele, disse um poeta um dia fazendo referência ao Mestre amado. O berço que ele usou na estrebaria por acaso era dele? - Era emprestado. E o manso jumentinho que em Jerusalém chegou montado E palmas recebeu pelo caminho Por acaso era dele? - Era emprestado. E o pão, o suave pão que por seu amor foi multiplicado alimentando toda uma multidão por acaso era dele? - Era emprestado. E os peixes que comeu junto ao lago e ficou alimentado. Esse prato era seu? - Era emprestado. E o famoso barquinho, aquele barco em que ficou sentado mostrando à multidão qual o caminho por acaso era dele? - Era emprestado. E o quarto em que ceou ao lado dos discípulos, ao lado de Judas que o traiu, de Pedro que o negou por acaso era dele? - Era emprestado. Enfim, nada era dele! Mas a coroa que ele usou na cruz e a cruz que carregou, e onde morreu Essa era de fato de Jesus. Isso disse um poeta, certo dia numa hora de busca da verdade, mas não aceito essa filosofia que contraria a própria realidade. O berço, o jumentinho e o suave pão, os peixes, o barquinho, o quarto e a sepultura eram dele a partir da Criação. Ele os criou - diz a Escritura. Mas a cruz que ele usou a rude cruz, a cruz negra e mesquinha onde meus pecados todos expiou não era sua. Essa cruz era minha!

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