terça-feira, 3 de maio de 2016

VIVA OS TRINTA

06/07/2015 – 21.00h Escrito enquanto aguardávamos a pizza no Restaurante La Casona, Buenos Aires, ao deguste de uma taça de vinho, no dia de nossos 30. ‘Quem pensou em trinta? Eu não pensei em nada... Muito menos em números! Pensei em você! Não pensei em tempo, mas em intensidade: Que seja intenso enquanto dure e que só a morte nos separe! Isso foi o que imperou. A graça de Deus nos brindou até aqui com trinta, e nada, ou mesmo a morte, nos separou. Foram trinta anos de expectativas, realizadas ou não. Trinta anos de sonhos que se concretizaram ou ainda estão por ser. Trinta anos com esperanças, sorrisos e alegrias aos montões. Trinta anos onde lágrimas rolaram, tristezas nos derrubaram, lutos e sustos se fizeram então. Trinta anos contemplados com quatro filhos que completam os sonhos e alegrias que apontam para alegrias maiores por vir. Trinta anos que, é meu anseio, vê-los dobrados ou triplicados, sem devaneios. Trinta anos que Deus nos deu e outros tantos que se fará com a graça e favor do mesmo Senhor. Trinta anos que tivemos um ao outro e um ao outro tivemos. Só valeu a pena, Iris. Caminhar com você aqui em montanhas ou campinas, escalando planícies ou picos íngremes, sempre foi o meu prazer. Caminhar com você até aqui me assegura de continuar a jornada em meio a flores ou dura estrada. Amparo-a em mim, amada. Trinta anos foram os tais. Que venham os tais mais. Com o mesmo amor!’ — com Iris Torres da Cunha.

SUSPIROS PELO FUTURO

27/04 – 09.30h O presente é bruto e insensível, em sua realidade nua e crua. Por vezes o presente dói, magoa a alma e o sonho destrói. Encarar o dia a dia com suas realizações, suas conquistas ou decepções, Produzem na alma profundas escoriações de quem luta por viver bem. Olhar o sol ardente em meio às quimeras do cotidiano da vida Pode incentivar a corrida ou sangrar as feridas! Uma ou outra são resultantes óbvias em tudo com que se lida, E esse é o resultado repelente e não menos frequente no presente. O futuro é inspirador, pois lida com o ilusório, utópico ou irreal. Leva a alma nas asas da brisa e se enleva nas nuvens do sonho. O futuro encantador, enigmático e medonho; Assim anima e enseja risos para a alma frugal; Despertando como fagulhas, uma esperança empolgante, Que, como criança, a alma acredita e se entrega ao além, Almejando e suspirando pela realização de seus sonhos Aguardando que o futuro se faça presente, sem seu desdém. Enquanto o futuro não vem, a alma geme em profundos suspiros Anseando a paz e a serenidade numa experiências de alegre prazer, Que do presente ao futuro se fizera sonhar e antever Vivendo nas brumas e névoas de uma vida sem muros. Ah! O futuro! O que ele trará? Será certo e seguro? O enigma faz a alma suspirar e ansiosa almejar Que de lá venha para cá o troféu de um enduro Onde, em prazeres, o presente possa se realizar. Ah! Futuro! Não me deixe no escuro! Venha, futuro e transforme o meu presente! Torne realidade o sonho que ainda tão latente Pode realizar a utopia de um prazer emergente!

‘Quem é Esta Mulher?’, Eu Sei!

Emiliano 08/03/2016 08.16h Qualquer um pode levantar a mesma pergunta Uma boa questão para qualquer ocasião, E diante do enigma, engendra e responda Mitiga esta ambígua, o aquinhoado varão! É tal a mulher, que se levanta em minha mente então? Esta mulher é única e especial, sem se achar outa igual Sua personalidade jovial, firme, mesmo em temporal. Timbre indelével, de caráter e honradez Amante da arte, sensibilidade e polidez Me vejo privilegiado, desde há muito, então, Um achado entre milhares, como presente do céu Li na Bíblia que assim se dá, é como morar em Beulá, Honra, valor e respeito terá, Enigma perdura e a busca se acura Responda pra mim quem é, e onde está? Entre tantas, uma desponta e me encanta Uma entre todas por demais as suplanta Sei responder, sem meneios dizer Encontrei esta pérola, com matizes de flor Iris é seu nome, e também meu amor!

POR QUE?

Porque você é companheira! Você é amiga! Você é mãe cuidadosa! Você é mulher de luta, garra. Você é virtuosa! Você é amada De Deus! Porque? Íris, te amo.

DEVANEIOS

A minha atualidade O meu futuro A minha vida Esse é o código Ah, se você soubesse! Sabe, aquela coisa de criança: De não poder contar, Mas querer falar, E querer que todos soubessem?! Ah, se você soubesse! Que você não saiba. Que ele dure muito até que se descubra. Que ele nunca acabe até que você o leia. Não deixe que sua mente devaneie. Não deixe que a aranha faça teia. Nada há de estranho e refratário. Esse é o código: meu diário.

FAZE-ME COMO A OSTRA, MEU SENHOR!

Não sei se isto é pedir demais.... FAZE-ME COMO A OSTRA, MEU SENHOR! Wesley Ernesto de Rezende. Senhor, o mar estava tão lindo naquela manhã... E sem que eu quisesse, quando eu introduzi a mão na areia, Pude ver que aquele objeto que segurei era uma ostra. Fiquei por horas e horas com ela em minha mão. Uma matéria resistente, e no seu todo uma abertura E uma substância sensível. Imaginei o quanto este pequeno ser é valioso. Senti vontade de duvidar que no seu interior existisse uma pérola. Quando me lembrei que aquela ostra transformava coisas simples em coisas valiosas, Minha vontade, Senhor, não foi outra, se não ser igual a ela. Apesar de ter uma parte rígida em mim, Tenho, da mesma maneira que a ostra, uma parte frágil. Só que, as vezes, sou diferente dela. Minha parte delicada passa a ser prepotente, Pois meu coração que deveria em todo tempo ser compassivo passa a ser rígido. E o meu ‘eu’ que deveria ser sempre solidificado em Ti, Quase sempre se desmorona diante de todas as coisas negativas, A ponto, senhor, de me fazerem dominado por elas. E como isto é tão horrível, meu Senhor! Será que podes atender o meu pedido? Queria ser igual aquela ostra pequenina habitando no imenso mar. Dá-me força para que no mar da vida eu possa transformar o negativo Em pérolas preciosas, positivas, úteis ao teu reino, abençoadas por Ti mesmo. Permite, Senhor, que a minha parte rígida funcione tal qual a da ostra: Que diante do ribombar das ondas e dos cascalhos do mar, Sempre se mostra em condição de resistir. E que o meu interior, seja como uma caixa de sugestões Disposto a receber tudo quanto quiserem colocar, E que tenha condição de sem nada reclamar, Receber tudo quanto no mundo existir, E que tal como o homem da Bíblia, examinar tudo, Retendo apenas o útil para mim e para o teu reino. Depois, em resposta tudo quanto receber, Não me preocupar com o valor do que o mundo me entregar, Mas que minha principal preocupação seja transformar tudo, Principalmente o meu ‘eu’ negativo E toda a imensidão de coisas fúteis que existem em mim, Em pérolas preciosas aos teus olhos, Necessárias ao teu reino. Faze-me como a ostra, Senhor: Capaz de fazer coisas sem valor, pérolas valiosas. Capaz de dar aos homens um pouco mais de valor.

BARRABÁS: O PROCESSO CONTINUA!

[‘Der Prozess Geth Weiter’ – Rudolf Otto Wiemer] BARRABÁS: O PROCESSO CONTINUA! [‘Der Prozess Geth Weiter’ – Rudolf Otto Wiemer] ENTENDA A PEÇA: Uns dias antes da morte de Cristo, os soldados de Jerusalém prenderam um marginal chamado Barrabás. O delinqüente foi julgado e condenado a morte. Deveria morrer cravado na cruz. Uma morte cruel. A morte por crucificação é lenta e cruel... Às vezes, o crucificado ficava cravado na cruz por dois ou três dias, até morrer. O sol durante o dia e o frio durante a noite, a fome, a sede, a perda de sangue, as dores musculares e cãibras, pouco a pouco vão acabando com a vida do crucificado. ‘... por ocasião da festa da Páscoa, o governador costumava soltar um preso, escolhido pelo povo. Nesta Páscoa, propôs soltar um dos dois, Cristo [também condenado a morte] ou Barrabás. A multidão pediu que soltasse Barrabás e consequentemente deixasse que Cristo fosse levado à cruz. Barrabás [o assassino], estava livre. [Provavelmente] o primeiro homem que entendeu que Cristo morreu em seu lugar foi o delinquente Barrabás’(Tirado de O Mensageiro 2003). A peça O Processo Continua conta a suposta história de Barrabás de sua libertação. Depois de colocado em liberdade, Barrabás foge noite adentro e vaga pelo mundo por séculos e milênios e, mesmo estando livre, não encontra a liberdade. O processo de Barrabás é o processo do ser humano que não quer aceitar a graça. Ele, o primeiro dos absolvidos por Cristo, está no lugar de todos nós. Nele, na sua pessoa, nós fomos anistiados de modo inacreditável. Por isso, a sua dúvida é a nossa dúvida, a sua inquietação é a nossa inquietação, a sua obstinação, a sua cegueira, o seu arrependimento – tudo é nosso. Em um ponto, porém, o Barrabás da peça está à nossa frente: ele sofre tanto com a sua culpa que não procura somente o agraciador, mas também o acusador. Ele se submete ao julgamento. E qual vai ser a sentença? Você vai decidir! BARRABÁS: O PROCESSO CONTINUA! [‘Der Prozess Geth Weiter’ – Rudolf Otto Wiemer] Orientação: O processo de Barrabás é o processo do ser humano que não quer aceitar a graça. Ele, o primeiro dos absolvidos por Cristo, está no lugar de todos nós. Nele, na sua pessoa, nós fomos anistiados de modo inacreditável. Por isso, a sua dúvida é a nossa dúvida, a sua inquietação é a nossa inquietação, a sua obstinação, a sua cegueira, o seu arrependimento – tudo é nosso. Em um ponto, porém, o Barrabás da peça está à nossa frente: ele sofre tanto com a sua culpa que não procura somente o agraciador, mas também o acusador. Ele se submete ao julgamento. Por isso também ele consegue encontrar o seu direito: o direito de aceitar a graça. O caso de Barrabás está incluído em uma sessão real, como se fosse uma visão. Os magistrados percebem imediatamente que os acontecimentos da sexta-feira santa se repetem em cada processo humano: isso também ocorre no caso de pessoas com o nome comum ‘Silva’. O processo quanto à culpa e graça realizado no tribunal de Pilatos não se esgotou definitivamente: o processo continua. A qualquer momento podemos estar envolvidos nele, pois somos nós que estamos sentados no banco dos réus ou à mesa do juiz – isso não faz tanta diferença. Este tipo de pano de fundo não é novidade na peça amadora. Ele exige sobriedade e domínios dos meios. O descobrimento do cenário não deve ser acentuado por técnicas espantosas, mas deve ser aceito com naturalidade, mesmo a aparição do anjo. O cenário deve se restringir a alusões. Uma mesa larga para o juiz; um banquinho para o réu; uma prateleira com livros; várias pastas; uma Bíblia e um calendário com algarismos grandes são necessários. Além disso, um foco de luz que ilumine a figura do anjo. É desejável que a intensidade da luz sobre o palco possa ser controlada. Toda a cena centra (páginas 5-21) não é apresentada com iluminação total, mas de forma que todos os personagens possam ser bem reconhecidos; não uma penumbra mística. O vestuário deve ser usado com cuidado. O juiz, o promotor e o advogado não devem se preocupar com realismo. Uma capa preta é suficiente para caracterizá-los como personagens da justiça; não se deve usar o barrete. O escrevente se apresenta sem uniforme. Não é a economia e sim o exagero na verossimilhança que prejudica o efeito interno. O anjo se apresenta com calças de agasalho amarradas abaixo do joelho por faixas claras cruzadas, um blusão verde-escuro, cinzento ou amarelo claro (e não preto) preso com um cinto; os braços nus ou mangas curtas. Naturalmente o anjo será representado por um ator do sexo masculino. Barrabás se apresentará com calças curtas, blusão comprido por cima, as pernas nuas e sandálias nos pés. A mãe vestirá uma saia comprida e escura, com xale escuro. Deve-se cuidar para que os três representantes da justiça se diferenciem na linguagem e nos gestos. O promotor deve ser arguto e cético; o juiz, humano e benevolente; o advogado de defesa, pensativo e o mais disposto a ceder. O anjo deverá falar completamente sem emoção: ele é apenas um mensageiro. Barrabás começa recluso, num silêncio obstinado. No decorrer da peça ele se inflama em explosões violentas; no final está outra vez quieto, mas não mais fechado e desesperado; a sua atitude deverá demonstrar que a mudança o tocou. A mãe, severa, calma, muito precisa nas suas afirmações. Os momentos de silêncio não devem ser prolongados exageradamente. Os expectadores devem ser envolvidos claramente na ação. Duração da peca: 45 minutos. Naturalmente a peça pode ser apresentada também em outras épocas do ano além da Páscoa, pois sexta feira santa é sempre. Neste caso observem as seguintes alterações do texto: 1. Página 4, última linha: ● Advogado: Não. (Daí saltar para a linha da página 5). ● Juiz: Sem brigas, meus senhores. 2. Página 8, linha 6: ● Juiz: Não temos tempo a perder (Daí saltar para): ● Anjo: Lá também foi pronunciada uma sentença. 3. Página 21, linha 22: ● Escrevente: Caso Silva. (Daí saltar para): ● Juiz: (ergue a Bíblia, diz para o escrevente): Coloque... (Neste caso não será necessário usar o calendário). PERSONAGENS: Barrabás. Juiz. Promotor. Anjo. Advogado de defesa. Mãe. Escrevente. No tribunal. No fundo a mesa do juiz; à direita, o banco dos réus. Do outro lado, uma prateleira com pastas, etc. Na parede, um calendário grande. A platéia ainda está iluminada. Escrevente: (Traz uma pasta e a coloca sobre a mesa do juiz): Caso Silva. Parece que esse Silva tem muitos conhecidos (volta-se para o público), já que todos as senhoras e os senhores estão aqui. Ou será que vieram por curiosidade? Isso seria muito pouco. Pensem, afinal o réu também é um ser humano – bem deixem isso pra lá. Eu recomendo que as senhoras e os senhores se mantenham atentos e em silêncio perante o tribunal. Se não, poderemos ter dificuldades desnecessárias. Como? (Aponta para uma pessoa) O senhor disse alguma coisa? Os senhores são expectadores e nada mais. E está bem assim, não está? Afinal de contas, não é fácil ser réu de morte. Ser juiz também não é (Apaga-se a luz da platéia). Ótimo. Fiquem aí no escuro. As senhoras e os senhores não são importantes. Aqui a única coisa que importa é o processo. Processo Silva. E se o homem é realmente culpado... ou quem é o culpado... Promotor: Não há dúvida quanto à culpa. Acho que hoje a sentença será decidida. Juiz: Ele já confessou? Promotor: Isso é secundário. Os indícios são esmagadores. Advogado: Mesmo assim deveríamos das uma oportunidade ao réu para aliviar a sua consciência com uma confissão. Promotor: Consciência? E o senhor acha que um assassino tem isso? Advogado: Todo mundo tem consciência. Mesmo a pessoa mais decaída. Promotor: Então o senhor não o considera um caso perdido, esse Silva? Advogado: Não. Promotor: Por que não? Advogado: (Agora ao lado do calendário, arranca a folha e mostra ao promotor): Que dia é hoje? Promotor: (Com espanto): Quinta feira. Dia de sessão. Como sempre. Advogado: Quinta feira antes da Páscoa. Portanto amanhã é ... Promotor: Sexta feira Santa. Advogado: O senhor sabe porque eu não considero esse indivíduo aí (aponta para a pasta) um caso perdido? Promotor: Não seja ridículo. Hoje em dia ninguém se importa mais com isso. Juiz: Sem brigas, meus senhores. (Mais baixo) Não se esqueçam que hoje o tribunal está aberto ao público. (Eles sentam). Guarda! Introduza o réu. Escrev: (Vai até a porta e chama) Guarda! (A luz se apaga completamente) Guarda! (Ecoando lá fora) Guarda! (Subitamente aparece o anjo num facho de luz) Juiz: Quem é o senhor? Anjo: O guarda. Juiz: Mas então eu deveria conhecê-lo. Anjo: Muitos não me conhecem. Juiz: Estranho. Normalmente eu tenho uma ótima memória para fisionomias. Anjo: O senhor conhece Pilatos? Juiz: Pilatos? (Ri meio sem graça) É claro que conheço. Quero dizer, pessoalmente ainda não tive a honra. O senhor o conhece? Anjo: Eu era o guarda no seu palácio. Juiz: (Pasmo) Como? O senhor era o guarda de Pilatos? Antigamente, há dois mil anos? O senhor está querendo zombar de mim? Anjo: Estou falando sério. Juiz: Não diga bobagens! De brincadeira eu ainda aceitaria, mas a sério? O senhor sabe onde está? Anjo: No tribunal. Juiz: Exatamente. Então o senhor está a par da situação. Além disso, hoje há uma sessão importante. Trata-se ... Anjo: Do homem. Juiz: Exato. Daquele Silva. Não podemos perder tempo. A sentença deverá ser decidida ainda antes das festas. E amanhã já é ... Anjo: Sexta-feira Santa. Como daquela vez. Juiz: (Cada vez mais espantado) O senhor está se referindo àquela única Sexta-feira Santa, há dois mil anos? Anjo: Sim, é dela que eu estou falando. Juiz: E o que nós temos a ver com isso? Anjo: Lá também foi pronunciada uma sentença. Juiz: O senhor está se referindo outra vez a Pilatos. O senhor tem algo a ver com ele. Ele não lhe dá sossego. Mas, Deus do céu, será que o processo não foi definitivamente esclarecido naquela ocasião? Anjo: Não, não foi definitivamente esclarecido. O processo continua. Juiz: (Olha admirado para o anjo e então diz) Pois, então introduza o réu. Anjo: Aí está ele. (Aponta para o bando dos réus. A luz aumenta um pouco. Vê-se Barrabás sentado ali). Juiz: Seu nome? Barrabás: Barrabás. Juiz: (Ergue os olhos espantado) Não é Silva? Barrabás: (Barrabás fica em silêncio). Juiz: (Volta-se para o anjo) Como é que o senhor vai introduzindo esse indivíduo assim? Anjo: Ordens. Juiz: Ordens? De quem? Anjo: De meu superior. Juiz: Há outro superior aqui além de mim? Anjo: Sim. Pois ele vai julgar todas as obras. Tudo o que estiver oculto, seja bom ou mau. Juiz: (Relutante) Então é isso que o senhor quer dizer. Estranho. Mas agora estou percebendo quem o senhor é. Promotor: (Ergue-se rapidamente) Eu protesto. Não quer ter nada a ver com o caso Barrabás. Anjo: Todos são Barrabás. Promotor: Além disso nós não somos responsáveis. Por favor, senhores. São dois mil anos! Anjo: Mil anos são como um dia. Advogado: (Pensativo) Como um dia no calendário. A minha mão tremeu quando arranquei a folha. Assim desaparece um dia atrás do outro. A gente mal percebe e diz: ‘Que diferença faz?’ E isso continua, ano após ano – as folhas caem inevitavelmente – caem e caem – e aí de repente, aparece alguém e diz ... Anjo: Sexta-feira Santa! (Silêncio. O promotor senta-se novamente). Juiz: A sessão está aberta. Processo contra Barrabás. Qual é a acusação? (Promotor encolhe os ombros). Anjo: (Busca a Bíblia da prateleira e entrega ao juiz). Juiz: (Folheia) Mas .. isso são os autos? Anjo: Sim. Juiz: A Bíblia? Anjo: Sim. Juiz: Ah é mesmo. É aqui que está a história desse homem. Mas onde é mesmo que ela está escrita? Anjo: João 18 versículos 38 a 40. Juiz: (Abre e lê) ‘O que é a verdade? – perguntou Pilatos. Então Pilatos saiu outra vez para falar com os judeus e disse: Não vejo nenhum motivo para condenar esse homem. Mas, de acordo com o costume de vocês, eu sempre solto um prisioneiro na ocasião da Páscoa. Vocês querem que eu solte o rei dos judeus? Todos começaram a gritar: Não, ele não! Nós queremos Barrabás. Ora, esse Barrabás era um assassino’. Promotor: Aí está. Preto no branco. Um assassino. Juiz: (Abaixa a Bíblia) O caso está resolvido. Promotor: A sentença então deveria ser mais clara ainda. Advogado: Não. Barrabás não foi condenado. Barrabás foi anistiado. Promotor: Onde está isso? Advogado: Eu me lembro muito bem de ter lido isso (Pega a Bíblia). Anjo: Mateus, capítulo 27, versículo 26. Advogado: (Lê) ‘Então Pilatos soltou Barrabás para eles’. (Volta-se para o promotor) O senhor ouviu? Promotor: (Pega a Bíblia. Lê também) Incrível! Juiz: Os senhores não acham que esta é uma decisão fundamental? Advogado: Sem dúvida. Promotor: Eu não entendo como este homem pôde ser anistiado. Juiz: Vamos ao assunto! Advogado: Com base no perdão concedido naquela época, exijo que o meu cliente seja libertado imediatamente. Juiz: (Volta-se para Barrabás) O senhor ouviu, réu? O senhor concorda? Barrabás: (Depois de uma pausa) Não. Juiz: Como? O senhor não quer ser libertado? Barrabás: Não. Advogado: Mas escute, Barrabás. Tenha juízo. Será que o senhor não entendeu que deveria ter sido condenado? E a sua pena seria de morte! A sua culpa não foi pequena. Assassinato é assassinato. E de acordo com as leis da sua época, isso significaria olho por olho, dente por dente. O senhor sabe disso? Barrabás: (Baixinho) Sim. Juiz: E o senhor sabe também que na sua terra assassinos comuns são pregados na cruz? O senhor sabe que morte é essa, a morte de madeiro? Terrível ... (Interrompe a si mesmo). Mas, o senhor está voltando a razão, não está? O senhor se superestimou quando protestou contra a libertação. O senhor não pensou que dessa vez a coisa poderia ficar séria. (Barrabás faz um movimento como se quisesse se afastar). Juiz: (Benevolente). Bem, agora o senhor está ficando mais razoável. É tudo bobagem, Barrabás. (Depois de uma pausa) O que mais o senhor quer? Temos prazer em ajudá-lo. (Barrabás permanece em silêncio). Juiz: (Sacode a cabeça) O senhor está aí como se estivesse sido pregado. Ouviu? Pregado. Isso tudo ainda pode acontecer. Mas isso vai fundo Barrabás. É diferente de um arranhão de um espinho. Isso rasga e queima. Como fogo. E a gente perde o fôlego. Barrabás: (Arrepiando-se) Como fogo... Juiz: Além da sede insuportável. Sem falar a vergonha e daquilo que os carrascos fazem: zombarias, torturas e outras crueldades piores. Mas porque estou dizendo isto? O senhor sabe disso melhor do que eu. O senhor conhece as práticas e costumes de seus compatriotas. E mesmo assim o senhor não quer ser agraciado? Barrabás: (Em voz baixa) Não. Juiz: (Impaciente) Mas então, o que é que o senhor quer? (Barrabás permanece em silêncio). Advogado: Fale réu. Trata-se de sua vida. Barrabás: (Relutante) Eu ... Não quero misericórdia. Eu quero ... os meus direitos! Advogado: (Tentando convencê-lo) Direitos? O senhor deveria dar graças por não estarem seguindo a lei ao pé da letra. O senhor estaria perdido com os seus direitos! Nós já tentamos lhe explicar o que o espera se o senhor recusar a sua sentença de libertação. Mas a execução da pena é mais terrível ainda. O senhor sabe que houve assassinos que ficaram entre 12 e 20 horas pendurados na cruz, gritando tanto que a cidade inteira os ouvia? Que a sua língua inchava, ficava preta e saia da boca? Que o seu corpo também inchava e os tendões dos pés se rompiam? Que bandos de moscas cobriam as feridas, mas nenhum soldado espantava uma só dessas milhares de moscas? Uma tortura terrível! Acredite! (Solta um riso forçado). Mas tudo isso é bobagem. Ou será que alguém está mesmo acreditando que o meu cliente seria tão idiota assim para recusar o perdão? Como os senhores iriam pensar numa coisa dessas? Pensem que não só não o torturaram, mas também o cobriram com presentes, cujo valor só alguém que ressuscitou da morte sabe avaliar. Deram-lhe relva a beira do caminho, a ave no céu, raios de sol, a escuridão da noite, pão para a sua fome e uma taça de vinho extasiante. Quantas dessas taças foram dadas a ele! Além disso também casa e cama, a volta para a mulher e os filhos. Cessou a fuga de seus perseguidores incansáveis. Dormir, sim, finalmente poderia dormir sem pesadelos, sem a espada da justiça pendendo sobre seus olhos! Será que um só desses presentes não seria suficiente para querer a libertação como um milagre sobrenatural? Réu! Barrabás! Homem! Será que os seus direitos valem mais do que esta liberdade? (Barrabás permanece calado). Promotor: (Zombeteiramente) Que direitos são esses? Direitos de um assassino? Barrabás: (Após longa pausa) O direito de receber a condenação. Promotor: (Espantado) Então é isso que o senhor quer dizer? O senhor quer o castigo? Isso realmente eu não esperava. Juiz: Com toda consideração pela sua pessoa, réu, mas será que o senhor poderia nos dizer o que o senhor quer com esse castigo? Barrabás: (Aos poucos) Eu ... não posso ... mais viver assim ... Juiz: Explique-se melhor. O que o senhor quer dizer com não poder mais viver ‘assim’? Barrabás: Sem que ... alguma coisa ... mude. Juiz: O que deve mudar? Barrabás: Eu ... Advogado: Eu entendo isso muito bem. Ele é um assassino. Naturalmente isso não é agradável. Principalmente diante das pessoas. Elas são impiedosas. Elas apontam o dedo para a gente: ‘Ai vem o Barrabás! Não cheguem perto dele!’ É por isso que ele quer se reabilitar ... (Barrabás quer dizer alguma coisa). Advogado: Deixe-me terminar o que estou dizendo. O senhor vai se espantar, mas o senhor já está reabilitado. A sua libertação é equivalente a uma anistia. Assim a sua honra foi reconstituída perante o tribunal. Inclusive perante o mundo. Ninguém pode acusá-lo. Ninguém pode chegar perto demais do senhor. (Barrabás sacode a cabeça) O senhor acha que não? Mas então diga quem está pondo obstáculos ao senhor? Eu vou tirar satisfações com ele imediatamente. Vamos lá, quem é? Barrabás: Ele ... Advogado: Ele? Quem o senhor quer dizer? Barrabás: O que foi ... a cruz ... no meu lugar. Advogado: (Mais retraído) Ah, sei. É dele que o senhor está falando. E ele não o deixa em paz... Barrabás: Não. Ele não me deixa ... em paz. Advogado: Mas o senhor o conhecia? O senhor já tinha ouvido falar nele? (Barrabás sacode negativamente a cabeça com força). Advogado: O senhor realmente o viu? Diante do tribunal? (Barrabás assente com a cabeça). Advogado: O senhor realmente o viu? Quero dizer, o senhor olhou para ele? Ou ele ... para o senhor? Barrabás: Não. Daquela vez eu não o vi. Daquela vez eu só tinha medo. Um medo terrível que me cegava. Porque eu tinha estado no cárcere. Será que alguém aqui sabe como é escuro lá dentro? Nenhuma janela. Nenhuma brecha na parede. Eu estava lá e tremia. Quando a água pingava do teto no meu rosto, eu me assustava e gritava. Eu também gritava quando os ratos corriam sobre a minha cabeça e quando as correntes das minhas mãos tilintavam. De medo eu gritava. De medo do escuro. E de que pudessem me esquecer. Simplesmente me esquecer lá embaixo. Aí eu batia na pedra com os meus punhos. ‘Ei, tem mais alguém aqui que vocês esqueceram. Um assassino! (Grita) Um assassino!’ Juiz: Acalme-se. Não o esqueceram. Advogado: O senhor não está mais na prisão, Barrabás. Barrabás: (Ergue-se sobressaltado) Não estou mais? Quem ame soltou? Advogado: Pilatos. O Supremo juiz. Barrabás: (Fora de si) Não! (Aponta para o público) /Foram eles aqui. Eu me lembro deles. Daquela vez eles também estam lá, como eles sempre vêm para as sessões nos tribunais. Como espectadores. O que vocês querem, hein? Vocês querem depor contra o assassino e dizer: ‘Olhem, aí está um malfeitor. Condenem-no; mas nós não temos culpa do que ele fez’. Será que vocês são inocentes mesmo? Será que vocês nunca sujaram suas bocas com uma mentira? Nunca amaldiçoaram o seu vizinho? Nunca rejeitaram sua irmã? Seus hipócritas! O que significa a sua gritaria? Ou não foram vocês que gritaram: ‘Fora com ele. Crucifica! Queremos a sua morte! Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!’ (Pára, esgotado). Promotor: Mas, por favor, réu. As pessoas não fizeram isso. Muito pelo contrário. Eles pediram a sua libertação. O senhor não ouviu quando eles gritaram: ‘Barrabás! Barrabás!’ o tempo todo? Barrabás: (Assusta-se, recorda) Eu ... ouvi, sim. ‘Barrabás! Barrabás!’ E depois: ‘Crucifica-o! Crucifica-o!’ Oh, essa gritaria horrível! Esses uivos das bocas espumantes! Esse ódio embriagante! A saliva nos lábios! Os punhos estendidos! E para quem era tudo aquilo? Como é que eles podiam exigir outra coisa que não fosse a minha morte? Uma sentença cem vezes merecida. Promotor: Mas eles não estavam falando de você, homem! Barrabás: Como não estariam falando de mim, já que sou um assassino? E eu não tinha esperado outra coisa. Eu tremia pelo corpo todo. Os meus dentes batiam. Será que eu sabia o que estava acontecendo? Será que hoje eu sei? ‘Crucifica-o! Crucifica-o!’, eu ouvia. ‘Crucifica-o!’ – e depois uma voz perto do meu ouvido. Uma voz fria e indiferente: ‘Você está livre!’ – e mais uma vez: ‘Livre! Vá logo!’. Eu vacilei. Era como uma espada. Como se o mundo se partisse em dois. É, foi assim mesmo. (Volta a meditação). Advogado: O senhor ainda não entendeu? Barrabás: Eu ... me recuso a entender Advogado: (Em voz baixa) Não seja idiota, Barrabás. Aceita os fatos de uma vez por todas. Barrabás: (Grita) Não! (Mais baixo) Não! Advogado: Mas porque não? Barrabás: (Não diz nada. Quer falar alguma coisa, mas cala-se de novo). Advogado: Diga. Diga de uma vez o que há de tão – inaceitável! Barrabás: (Aos poucos) Se a gritaria ... não era para mim, não era pela minha morte, ... então eles ... eles devem ter condenado o outro, não é, o outro ... (?). Advogado: Sim, o outro foi condenado. Barrabás: (Ergue-se e explode) Mas o outro era inocente! Advogado: Como o senhor sabe disso? Barrabás: Eu o vi – morrendo. Advogado: O senhor acompanhou o cortejo até o lugar da execução? Barrabás: Eu cheguei quando tudo já havia acabado. De repente eu estava sozinho no campo vazio. Caí no chão. Quando ergui a cabeça, ouvi batidas de martelo. Nitidamente. Um martelo batendo no ferro. Isso se ouve de longe não é? Naquela vez eu pensei que o mundo todo estivesse ouvindo; e o chão debaixo de mim tremia. Eu me levantei. Senti como os meus olhos se abriam. Pela primeira vez desde a prisão eles se abriam de verdade. E agora eles viam ... (olha fixamente para a frente). Advogado: O que os seus olhos viam, Barrabás? Barrabás: Viam que ele era inocente. Advogado: Como o senhor chegou a esta conclusão? Barrabás: Eu vi. Advogado: O senhor não pode dizer mais nada sobre isso? Barrabás: Não. Só que os outros dois, dois culpados, estavam nas cruzes do lado dele. Dois assassinos. Um deles blasfemava. E esse um ... teria sido eu. Promotor: Não confunda os fatos. Se o senhor, Barrabás, tivesse sido crucificado, então ele – refiro-me ao do meio – não teria sido condenado. Ele ou o senhor – não havia outra alternativa. Barrabás: Ele ... ou eu ... Promotor: O senhor entende isso? Barrabás: (Sacode a cabeça) Um mistério terrível. Promotor: Porque terrível? Barrabás: (Olha longamente) Como é que o senhor iria saber o quanto é terrível quando nos são abertos os olhos? O senhor não é um assassino. O senhor não soube o que significa ser culpado. Juiz: Todo mundo tem alguma coisa da qual se arrepende. Até eu, o juiz. Barrabás: Arrepender-se? É assim que o senhor chama isso? Juiz: Como então? O peso da sua ação de repente lhe ficou claro. Face a este sofrimento inocente, o senhor resolveu... Barrabás: (Interrompe veementemente) Não! Nada disso! Eu só sentia um peso enorme sobre os meus ombros. E a escuridão, da qual eu acabara de escapar, voltou ainda mais cruel. Promotor: Então o senhor voltou a ter medo? Barrabás: Não medo, meus senhores. De que eu iria ter medo? Eu havia sido libertado. Todos me felicitavam: ‘Saúde, meu irmão! Você nasceu sob um alto astral!’ (Pausa) Como eu odeio esse astral! Promotor: Eu não o entendo, Barrabás. As pessoas tinham razão. Barrabás: Assim como têm razão as crianças que não sabem o que fazem. Por acaso elas têm sangue do irmão grudado em suas mãos? Será que ouvem dia e noite a agonia da vítima? Será que vêem os olhos dele se fechando e a cabeça rachada? Como é que elas iriam entender que eu tenho medo da sua alegria? Que eu amaldiçôo a jarra de vinho, e que na casa de minha mulher fico sentado, calado como um idiota? ‘Você está ouvindo’, eu pergunto pra ela, ‘está ouvindo as marteladas’? A mulher sacode a cabeça e seca o suor da minha testa. ‘Não é nada’, ela diz. Mas eu vejo as três cruzes, eu as vejo em pé e no meio vejo a ele, com a cabeça coroada de espinhos. Promotor: A morte do crucificado não está sendo discutida aqui. Além do mais, o senhor não tem culpa dela. Barrabás: (Cada vez mais excitado) Eu, eu não tenho culpa da morte desse crucificado? Eu, que fui agraciado em seu lugar? Que saí livre na mesma hora em que o chicotearam e puseram a cruz sobre seus ombros fracos? Ah, se eu pudesse ter carregado aquela cruz! Eu não teria desfalecido com o peso como ele, que não matou ninguém nem fez qualquer mal nem qualquer coisa ruim. Eu só teria recebido aquilo que minhas ações merecem: mentira, inveja, ira, e finalmente o sangue que clamava contra mim. E eu sou inocente? Eu mereci cem vezes a morte que ele sofreu! Eu! Eu! É por isso que ele não me deixa em paz. Ele me persegue. Ele se coloca no meu caminho. Se eu pego uma corda para eu me pendurar nela, ele a arranca da minha mão. Se me atiro na água, ele me traz a salvo para outra margem. Até a faca que ergo contra o meu peito, perde o corte. E é sempre ele, que me olha com esses olhos terríveis e com a acusação ardente: ‘Você sabe o que eu fiz por você?’ (Em voz alta) Sim, eu sei! Mas eu não entendo! Por quê? Porque ele fez isso? Isso era necessário – por mim? Que homem é esse, esse crucificado – que morre no lugar de um assassino? Advogado: Defendo os interesses do meu cliente. Peço que a sessão seja interrompida. Barrabás: (Exalta-se) Não! Nem um segundo mais! Eu não agüento mais. Eu quero ... Eu quero ... Juiz: (Asperamente) O que é que o senhor quer? Barrabás: Eu quero que me condenem. Eu quero morrer, ouviram? Morrer como ele, na cruz, de acordo com a lei. Eu não quero aceitar o sacrifício dele! Eu quero apagar esses olhos ardentes. Eu não quero misericórdia! Eu quero ser livre. Finalmente livre. Promotor: Livre? Mas isso o senhor já está há muito tempo Barrabás: Será que se liberta um assassino, soltando-o? De que adianta livrá-lo das algemas e não da culpa? Juiz: (De má vontade) Cale-se, réu. Não podemos fazer nada além de aceitar a decisão tomada naquela ocasião. Se não, teríamos que inocentar o crucificado a posteriori. Barrabás: E porque o senhor não faz isso? Juiz: (Lentamente) Talvez porque todos nós precisamos dele – lá na cruz. Portanto, pode ir. Barrabás: Eu ... ir? Nunca! Juiz: Não podemos decidir outra coisa! Barrabás: Então que a vítima venha me acusar! Onde está você, irmão Abel? Porque você não vem depor contra mim? Juiz: Os mortos são mudos. Barrabás: Ele não tem uma mãe que fale por ele? Porque ela não aparece? Porque ela não vem e diz que Barrabás deve ser condenado? (Volta-se para a platéia) Chamem! Chamem, para que o seu grito atravesse os séculos até o dia em que lhe trouxeram o morto para sua casa! Chamem, mães do mundo inteiro (Grita) Aqui está o assassino! O assassino do filho! E agora ele vai ... (Pára subitamente. A mãe atravessa o público em direção a Barrabás. Silêncio. A mãe pára diante do juiz). Anjo: A mãe. Promotor: Não me consta desta testemunha. Quem a convidou? Anjo: O filho. Promotor: Ele é o acusador? Anjo: Acusador, defensor e juiz. Promotor: Ela deve ser ouvida? Anjo: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. (Silêncio. O promotor senta-se). Juiz: A senhora é ... Mãe: Eu sou a mãe do rapaz que Barrabás matou. Juiz: (Com voz contida) E a senhora não esqueceu nada, quero dizer, nada do que aconteceu daquela vez? Mãe: Nada. Juiz: A senhora concordou com a libertação de Barrabás? Mãe: (Lentamente) Não. Eu amaldiçoei o assassino, o desgraçado. (Dirige-se a Barrabás) Eu amaldiçoei você, Barrabás. Barrabás: (Depois de uma longa pausa) Sou eu; o assassino de seu filho. Eu estava esperando atrás do espinheiro quando ele desceu cantando pela montanha. Ele estava cantando, ouviu? Outra pessoa talvez teria se assustado com essa canção. Mãe: E você não? Barrabás: Mesmo assim eu ergui a minha mão Mãe: Você o odiava? Barrabás: Sim, porque ele era do outro bando. Mãe: E isso foi o suficiente para o seu intento assassino? Barrabás: Foi. Mãe: (Afasta-se de Barrabás) Por isso amaldiçoei a Deus pela segunda vez, quando anunciaram pelas ruas a libertação de Barrabás. Lancei fora o meu luto como se lança uma bengala que se tornou inútil. Dali em diante o meu ódio me manteve em pé. Fui ao tribunal. Ajoelhei-me no pó diante de Pilatos. ‘Você é o juiz’ – eu disse – ‘porque você não julga?’. Ele encolheu os ombros ‘O povo já decidiu’. Corri para o mercado. Gritei para o povo. ‘Devolvam meu filho, ou condenem Barrabás!’. Aí todos riram. ‘Barrabás está livre, e você vá falar com os escribas. Eles sabem porque tudo isso aconteceu’. Ai eu fui falar com os escribas. Mas eles não tinham tempo. ‘Você não está vendo que temos que ir ao Gólgota?’. Então perguntei: ‘Mas o que querem lá, já que Barrabás não está na cruz? Quem vocês querem ver morrer?’. ‘Ele, que tem mais culpa que todos nós’ – responderam. E então... então... Juiz: O que aconteceu então? Mãe: Então eu também fui ao Gólgota. E o vi. E o acusei. ‘Porque você está fazendo isto?’ – perguntei na minha obstinação. ‘Porque você está morrendo no lugar de um culpado? O juiz Pilatos não sabe. O povo, que pediu a sua morte, não sabe. Os escribas também não sabem. Então você precisa dizer-me!’. O homem torturado ficou em silêncio. Ele viu que o ódio devorava minha a alma. Mas o ódio cega e ensurdece. Juiz: Cega e ensurdece. Mãe: Esperei debaixo da cruz. De repente ouvi a voz. Juiz: A sua voz? Mãe: A voz de um moribundo. Mas uma voz que atravessa sepulturas e escuridão. Também a escuridão do meu ódio. Foi como se eu acordasse de uma longa surdez e pela primeira vez ouvisse alguém falar. Juiz: O que foi que ele disse? Mãe: As suas palavras não se referem a mim. Depois percebi que se dirigiam àquelas pessoas que estavam mais perto de sua cruz. Mas aquelas mesmas palavras me atravessaram como espada – e ainda assim, como uma espada de luz. Mas, será que as suas palavras não foram ditas para todos nós? Juiz: Para nós? Mãe: Para você – para mim. Para cada um a palavra que precisa. (Cala-se e então diz em voz baixa, porém firme) ‘Mulher, eis aí o teu filho. Filho, eis aí a tua mãe...’. (Cala-se novamente e então continua no mesmo tom). Eu me virei, e aí estava – Barrabás – atrás de mim. Juiz: O assassino? Mãe: Sim. E eu, ..., eu o perdoei. (Barrabás cobre o rosto com as mãos). Mãe: Ele cobriu o rosto com as mãos, como agora. Como se a luz da cruz o cegasse. Fui em sua direção. E ele fugiu noite adentro. Como um perdido. Mas eu sabia que o encontraria. ‘Procurei você pelo mundo todo’ (ela fala em direção a Barrabás) ‘Até que enfim eu o encontrei, Barrabás’. Barrabás: (Abaixa lentamente as mãos) Eu, eu matei o seu filho. Mãe: Todos nós matamos o Filho. Barrabás: Eu sou culpado. Mãe: Todos nós somos culpados. Barrabás: Eu ... eu fui condenado. Mãe: Todos nós fomos condenados, e todos nós fomos libertados. Barrabás: Eu... eu também? Mãe: Você também, meu filho Barrabás. Barrabás: Então não foi o povo que me libertou? Não foi o sumo sacerdote? Nem Pilatos daquela vez diante do tribunal? Mãe: Não, Barrabás. Você não estava livre, até este momento, em que você é perdoado no nome dele. Barrabás: Perdoado... Mãe: Ninguém é livre, se ele não o libertar antes. Você não procurava os seus direitos, Barrabás? Barrabás: Procurava. Mãe: E agora você os achou. O direito de aceitar a misericórdia. Como eu. E todos nós. Vá, Barrabás. Barrabás: Mas para onde devo ir... mãe? Mãe: Para ele. Venha, eu vou acompanhar você. (Ela o conduz pela lateral. O anjo os segue, enquanto a luz diminui). Voz do escrevente: (Fora, ecoando alto, em completa escuridão) Guarda! (Aproximando-se) Guarda! Guarda! (A claridade aumenta aos poucos, como no início. Vêem-se apenas os três magistrados). Escrevente: (Entra) O réu está pronto. Juiz: (Como se estivesse acordando) Que réu? Escrevente: Caso Silva! Juiz: (Espantado, depois de uma longa pausa) Que dia é hoje? Promotor: (Levanta a página do calendário) Quinta feira. Dia de sessão. Como sempre. Juiz: Quinta feira antes da Páscoa. Portanto, amanhã é ... Advogado: Sexta feira santa. (Silêncio). Juiz: (Ergue a Bíblia, diz para o escrevente) Coloque o livro no lugar de novo. (Quando o escrevente quer pegar a Bíblia...) Não! Ele deve ficar aqui. (Recoloca a Bíblia sobre a mesa. Silêncio. Depois, numa decisão repentina). Introduza o réu. O processo continua! (Enquanto o escrevente vai até a porta, a luz vai diminuindo). (Redigitada por Rev. Emiliano – janeiro de 2007.).

O Autor… e Tu e eu…

Este poema de amor É só meu!… - Que quem o escreveu… Fui eu!…- Ou será que não!?… E se é assim tão verdade… Então… Porquê deixou tanta saudade A queimar-me o coração!?… Não terá sido…talvez Porque afinal… No Bem…e no Mal Ambos…tu e eu Somos a causa Porque ele nasceu?!… E se assim foi… ele é dos dois!… Que dele… Eu serei o autor… Mas tu…és a inspiração… E não há que esconder…: Quando como aqui… Um poema fala de amor tão vivido… Em que quando dói no coração Dói por inteiro…e sem qualquer pausa!… É porque fala de um amor sentido!… Um amor verdadeiro!… E se raro foi aquele Que alguma vez o conseguiu viver… Com nós os dois… Tu e eu… - Bem antes de escrever Este poema…- …Esse Amor aconteceu… ……………….. …E é por essa razão Que o meu coração Nunca mais te esqueceu!… Manuel Sepúlveda*

O AMOR

… Porque é puro, Porque é raro, Porque é valioso, Porque é infinito, Porque é verdadeiro, O amor é um sentimento fino. Não se corrompe, Não se compra, Não se vende, Não se pede, Não tem preço. Doa-se, entrega-se, conquista-se… N. Rogero

Nada era dEle

Inspirado em Stanley Jones Disse um poeta um dia, fazendo referência ao Mestre amado: "O berço que Ele usou na estrebaria, por acaso era dEle? - Era emprestado! E o manso jumentinho, em que, em Jerusalém, chegou montado e palmas recebeu pelo caminho, por acaso era dEle? - Era emprestado! E o pão - o suave pão que foi por seu amor multiplicado, alimentando toda a multidão -, por acaso era dEle? - Era emprestado! E os peixes que comeu junto ao lago e ficou alimentado, esse prato era seu? - Era emprestado! E o famoso barquinho? aquele barco em ficou sentado, mostrando à multidão qual o caminho, por acaso era dEle? - Era emprestado! E o quarto em que ceou ao lado dos discípulos, ao lado de Judas, que o traiu, de Pedro, que o negou, por acaso era dEle? - Era emprestado! E o berço tumular, que, depois do Calvário, foi usado e de onde havia de ressuscitar, o túmulo era dEle? - Era emprestado! Enfim, NADA era dEle! Mas a coroa que ele usou na cruz e a cruz que carregou e onde morreu, essas eram, de fato, de Jesus!" Isso disse um poeta, certo dia, numa hora de busca da verdade; mas não aceito essa filosofia que contraria a própria realidade... O berço, o jumentinho e o suave pão, os peixes, o barquinho, o quarto e a sepultura, eram dEle a partir da criação, "Ele os criou" - assim diz a Escritura... Mas a cruz que Ele usou - a rude cruz, a cruz negra e mesquinha onde meus crimes todos expiou, essa não era Sua, ESSA CRUZ ERA MINHA!

Túmulo Vazio

Myrtes Mathias É madrugada ainda escura Havia silêncio no jardim Maria trazia perfume e mirra Para o corpo de Jesus ungir Mas o tumulo estava vazio A pedra removida maria encontrou Maria entrando nada ali havia E em desespero Maria chorou Saindo de pressa mui triste maria E com o varão Maria encontrou Com voz amada olhando atônita Onde o puseste ela perguntou Porque procura viventes entre os mortos Diga aos outros que ele ressuscitou Então Maria foi aos discípulos E mui feliz assim falou Ressuscitou..... ressuscitou Cristo jesus já ressuscitou (bis) declamação: Pedro, Thiago, João venham e vejam, o túmulo está vazio ele não está no sepulcro Jesus ressuscitou, aleluia, Jesus ressuscitou...

Meditação no templo

Myrtes Mathias Eu sei que estás aqui e as Tuas mãos me outorgam a procurada paz e a desejada calma - escuto a Tua voz nos acordes do órgão que nutre a minha vida e alimenta minh'alma. Estás aqui bem perto, em tudo o que se faz sincera e humildemente em nome de Jesus. Para o mundo em conflito és a hora de paz e para a vida escura - és o raio de luz! Eu sei que estás aqui e Tuas mãos espantam a solidão, a angústia, a inquietação e a dor, Tu estás entre nós nos hinos que se cantam, no silêncio da igreja e na voz do pastor. Estás aqui pertinho e as Tuas mãos outorgam a bênção eficaz que paira sobre nós - e nos hinos do coro e nas notas do órgão Tu nos fazes ouvir a Tua excelsa voz!

Levantai os olhos... e vede o campo

Myrtes Matias Lá fora, além das paredes que te cercam e protegem, longe do calor que te aquece o corpo e o coração,está a grande vinha do Senhor; crianças que perderam os pais, mil mulheres que vendem o corpo, milhões de jovens que procuram uma razão de ser; povo, que é teu povo, caminhando irremediavelmente para o abismo... Pára. Olha. Pensa. E ouve teu desafio na própria voz do Mestre: “Levantai os olhos e vede... Vai hoje trabalhar na vinha...” Ainda é tempo de obedecer, alcançar a vinha aqui, ali, além; sustentando aqueles que vão, onde estiver um deles pregando a salvação, tu estarás, também.

Há um Deus em Tua Vida

Myrtes Matias Quando te vejo tão acomodado ao mundo que te cerca, como a água tomando a forma do vaso que a contém, eu me lembro de um Rei coroado de espinhos, arrastando uma cruz pelos caminhos, pelas ruas de Jerusalém. Quando te vejo tão preocupado com rótulos e comodidades, tão desejoso de aparecer, eu me lembro de um jovem-Deus perdido no deserto, onde só feras e anjos O podiam ver. Um jovem-Deus que te entregou um dia o privilégio da Grande Comissão, o Qual negas com tua covardia, sucumbindo a promessas que te falam à carne e ao coração. Quando te vejo tão ocupado em construir celeiros, ajuntando fortunas que o ladrão pode roubar, eu me lembro de um Deus caído sob tuas culpas sem o conforto de uma pedra para repousar. Quando te vejo conivente com aquilo que Ele aborrece, ao ponto de ocultar a Herança que Ele te legou, pergunto: Seria falsa a promessa que fizeste ou o amor que tu Lhe tinhas era pouco e se acabou? Onde está teu grito de protesto, que já não escuto? Tua atitude de inconformação? Será que te esqueceste do santo compromisso ou te parece pouco o privilégio da tua missão? Por que tremes diante do mundo, temendo por valores que só servem aqui? Será que Cristo te escolheu em vão ou será que já não existe um Deus dentro de ti? Tu estás no mundo, mas não és do mundo. Não escolheste – foste escolhido. Por que te encolhes ao ponto de seres grande pelo padrão dos homens, comprometendo tua autoridade de condenar um mundo corrompido? Foste escolhido para uma missão tão grande que nem a anjos foi dada a executar: não te assustem ameaças, não te seduzam promessas, numa obra eterna, é melhor morrer do que negar. Lembra-te que há um Deus em tua vida que os teus atos devem glorificar

Caminhos de Deus

Myrtes Matias “Somos caminhos que Deus usa.” Senhor, do alto sei que vês melhor, quanto mais se sobe, maior a visão; Teus olhos abrangem a eternidade: contemplam o sol em sua imensidade, vêem o verme a se arrastar no chão. Para que então ficar gritando ao mundo: olha o que tenho, o que sei, que sou? Se lá do alto vês o mundo todo, Tu sabes, Senhor, onde eu estou. Tu sabes por que vim ao mundo, tens uma missão pra mim. Nada mais falta que submissão, dizer – Ordena. Abrir o coração. Ouvir a ordem e obedecer assim: Sem importar a obra que a mim couber, ou o lugar em que meu campo esteja. Pode ser obscura minha atuação, o que me importa é Tua aprovação, ser tudo aquilo que queres que eu seja. Talvez não tenha a sorte das estrelas que belas cintilam, dando inspiração. Talvez meu campo seja o mais mesquinho; que me importa, se me tornar caminho por onde passe a Tua compaixão? Foram caminhos os servos do passado, através de História um traço de luz: Abraão, Moisés, José, Rute, Davi, Jonas, Ester foram no tempo aqui apenas caminhos em direção da cruz. Os que vieram depois também são caminhos por onde a graça de Jesus passou em busca do oprimido e do aflito, caminhos que se fundem no infinito no Único Caminho que um dia me salvou. Agora, Senhor, a minha prece: eu quero a graça de participar, se não posso ser um caminho brilhante, faze-me atalho na serra distante mas onde o mundo veja Teu amor passar. Usa-me, Senhor, durante todo o tempo, para que no dia em que voltar ao céu, possa dizer-Te, com um sorriso doce: - Nada fiz, nada ajuntei, eu nada trouxe, na terra fui apenas um caminho Teu.

Assim Cantaria Barrabás

Myrtes Mathias Desde criança venho perseguido por um destino sem contemplação: para dormir eu encontrei a rua, nada cobriu minha pele nua, para comer fui mendigar o pão. Assim cresci em minha muda espera, na obsessão de um dia me vingar do sentimento que meus pais negaram, do abandono a que me condenaram não tendo tempo nem para me amar. Tornei-me salteador... Parava, às vezes, mudo, pensativo, no ermo perdido, fraco, incapaz; olhando o céu e desejando um fim: - Por que Jeová, Tu me fizeste assim, porque nasci imundo Barrabás? Até que um dia (pois há sempre um dia no destino bom ou mau de cada um) ouvi de um Homem vindo da Judéia, que milagres houvera lá na Galiléia, que mortos reviveram em Cafarnaum. E a pergunta que havia em meu peito fez maior. E, sem poder conter o desejo de ver o tal Messias, que mensagem nova nos trazia, saí, buscando-O, e me prender. Dias depois, na solidão da ceia, um soldado irônico me chama: - Vem, Barrabás, que amanhã é Páscoa, vem sentir como o povo te ama, te ama... Sigo tremendo... De Pilatos a voz estranha, horrível, abafa a algazarra enlouquecida: - A quem agora desejais soltar, a vosso Rei, que vos quer libertar, ou Barrabás, que tem roubado vidas? E a multidão satânica delira: - Ai falso Rei, Tu não escaparás! Foi sacrilégio o que fizeste aqui: dizer-te Rei do trono de Davi. Na cruz o Cristo! Solta Barrabás! E só então o Homem condenado volta os olhos para me encarar. Por que me olha assim com tal doçura? Dessem-me a cruz, a forca e a tortura, mas nunca a força e o amor dAquele olhar. Levam-no ao Gólgata. Tomam os madeiros e no maior passam a prender Jesus. Amedrontado e cheio de aflição, atravesso a imensa multidão e oculto-me aos pés daquela cruz. E vejo o Mestre receber vinagre, em meio a revoltante zombaria; Vejo sua carne pálida rasgada, Sua cabeça de espinhos coroada e “os soluços imensos de Maria”. E eu, salteador que o povo inda temia (que pelos meus altos merecia a cruz), suplicando, dirijo-me a Maria: -Responda-me: quem é este Jesus? E Madalena, quase num soluço: - É o Cristo. É Deus, portador da paz. Por nosso amor abandonou o céu, era um cordeiro, transformou-se em réu; morre em lugar do imundo Barrabás. E vi, então, a própria natureza mergulhar em trevas, enquanto Jesus, clamando: “Está consumado”, morria, para que eu fosse libertado, sobre uma cruz – minha própria cruz... Assim cantaria Barrabás o seu poema, Se a História o quisesse contar. E tu, que tens ouvido há tanto tempo, porém não tens crido, que o próprio Deus morreu em seu lugar? Chamas maus os que mataram o Cristo; mas podes tu viver em paz? Mataram a Cristo os teus desatinos. És também um louco assassino: - Diante de Deus tu és Barrabás. Via blog http://porcausadaflor.wordpress.com (acesse e leia muitos outros poemas).

Adoração

Myrtes Matias Voltar no tempo e no espaço, viver na Galiléia, rever, cena por cena, a vida de um Deus. Acompanhar a estrela para presenciar o estranho Milagre de Deus aprisionando Sua onipotência num corpo de Criança. Acompanhar este “Senhor de quanto existe” fugindo para a terra da servidão. Vê-lO, bem mais tarde, levantar do vício e do crime o publicano e a meretriz. Ouvir a voz suave: “Vinde e aprendei de Mim, que sou manso e humilde...” Manso e humilde... Tão humilde que se ajoelha no Getsêmane para chorar a degradação da própria imagem. Tão manso que caminha para o Gólgota, sob a cruz, sem uma queixa. Emudecer de espanto ao ver este Deus-sem-lugar ser suspenso entre o céu e a terra, que não teve um berço para nascer, “uma pedra para reclinar a cabeça”, maldito sobre uma cruz. Ouvir este Deus, coberto de dor e vergonha, prometer o paraíso e oferecer perdão. Perdão... Seu evangelho, Seu ensino, Sua última palavra até que o “Tudo está consumado” alcançasse o céu e as trevas cobrissem a terra. Caminhar até o sepulcro e encontrá-lo vazio. Deixar Jerusalém e subir ao monte para ver abrirem-se os céus e cair de joelhos. Porque todos os joelhos se curvam, todos os lábios se calam, para ouvir em prece: “Este JESUS há de voltar um dia...”

A mulher adúltera

Manhã, clara manhã de sol rompendo as brumas, como um barco vermelho a singrar entre espumas... Campo de Luta. O sol é um gladiador selvagem e tinge com seu sangue a sombra da paisagem... ...Jesus, depois de orar a noite inteira, envolto em manto singelo, o cabelo revolto, a barba em desalinho, as sandálias manchadas pelo vermelho pó das longas caminhadas, ensinava no templo apresentando ao povo a larga nitidez de um horizonte novo... A estrada do porvir, imensa, inatingida, a nova Canaã, a Terra Prometida, que Moisés procurou no meio do deserto, parecia tão longe e estava ali tão perto! Ele era a porta aberta, o ensinamento, o exemplo... Nisto um bando sinistro avança pelo Templo, escribas, fariseus, num cínico mister: - Prendamos a Jesus, matemos a mulher! ... Em meio ao burburinho uma jovem bonita, pálida, maltratada, atirada e maldita pela lei de Moisés, esperava a sentença, "o prêmio do pecado", a negra recompensa de um ilícito amor. Envergonhada e muda, aguardava o suplício, a pedra pontiaguda que em seu corpo moreno, em ferida medonha selaria a desgraça, o martírio, a vergonha... Depois, a treva imensa e um corpo ensangüentado expostos para exemplo: "o prêmio do pecado". Fora presa em seu leito imundo e deletério no instante em que a paixão se fizera adultério. No intenso vozerio, uma voz se levanta: - Jesus de Nazaré, que dizes desta santa?! Merece a maldição que nossa lei ensina, ou merece o perdão que é da tua doutrina?... Jesus indiferente, alheio à multidão, abaixa-se a escrever com o dedo no chão. Depois, ergue-se altivo, os olhos vivos, a alma profundamente clara, imensamente calma, e destrói a pergunta em um único brado: - Lance a primeira pedra o que não tem pecado! Abaixa-se de novo o Pai dos Evangelhos e o povo se dispersa, a partir dos mais velhos. Só Jesus e a mulher. O perdão e o pecado, a negra escuridão e o dia iluminado... A humilde pecadora aguarda comovida o fim que lhe daria o que lhe dera a vida... - Ninguém te condenou? - pergunta o Nazareno. - Ninguém, Senhor, ninguém. - Pois nem eu te condeno. E, erguendo meigamente os olhos paternais, falou: - Podes partir. Mulher, não peques mais!!!

A Cruz do meio

Myrtes Mathias Ergue-se a cortina do tempo. Um bebê entre palhas, sorri, Uma virgem chora, um ancião contempla... Depois... Uma mãe ansiosa que procura o filho, Um adolescente que responde: "preciso cuidar dos negócios do meu Pai". Desenrola-se a cena: Um homem no jordão, no deserto, na Galileia, Samaria; Paralíticos andam. cegos veem, mortos ressuscitam, infelizes encontram consolo! A cortina abre-se por completo: Três cruzes! Três símbolos de humilhação, culpa e dor. Quem está à direita? Um criminoso arrependido; À esquerda? Um revoltoso, um réu recalcitrante. E no meio? Alguém que não se queixa, que sofre em lugar dos outros, que tem nos olhos tristes, a luz do perdão, e na cabeça pendida, um gesto de benção. Por quem corre aquele sangue? Pára! Olha! Medita! A cortina rasgou-se de alto a baixo: um bebê entre palhas, um adolescente entre doutores, um homem no Jordão, no deserto, na Galiléia, em Samaria... Depois... Caminha mais um pouco. O que vês? Três cruzes! Na do meio um homem que morre por ti. Contraste! O homem que morre é o Deus que te ofereceu a vida. Pensa! Medita! Aceita! Aceita o bebezinho entre palhas, o adolescente entre doutores, o homem que faz milagres. Esta cruz do meio! Pesada e negra cruz da infância, do sofrimento, da humilhação de um Deus. De um Deus que ama, perdoa e diz: "Hoje estarás comigo no Paraíso". Nada era dele, disse um poeta um dia fazendo referência ao Mestre amado. O berço que ele usou na estrebaria por acaso era dele? - Era emprestado. E o manso jumentinho que em Jerusalém chegou montado E palmas recebeu pelo caminho Por acaso era dele? - Era emprestado. E o pão, o suave pão que por seu amor foi multiplicado alimentando toda uma multidão por acaso era dele? - Era emprestado. E os peixes que comeu junto ao lago e ficou alimentado. Esse prato era seu? - Era emprestado. E o famoso barquinho, aquele barco em que ficou sentado mostrando à multidão qual o caminho por acaso era dele? - Era emprestado. E o quarto em que ceou ao lado dos discípulos, ao lado de Judas que o traiu, de Pedro que o negou por acaso era dele? - Era emprestado. Enfim, nada era dele! Mas a coroa que ele usou na cruz e a cruz que carregou, e onde morreu Essa era de fato de Jesus. Isso disse um poeta, certo dia numa hora de busca da verdade, mas não aceito essa filosofia que contraria a própria realidade. O berço, o jumentinho e o suave pão, os peixes, o barquinho, o quarto e a sepultura eram dele a partir da Criação. Ele os criou - diz a Escritura. Mas a cruz que ele usou a rude cruz, a cruz negra e mesquinha onde meus pecados todos expiou não era sua. Essa cruz era minha!

Judas

Judas Diocleciano Cavalcanti E Judas entrando alucinado e louco, contempla, horrorizado do seu crime infame, o povo, a quem há pouco vendera o grande Mestre, e entregara seu nome, por 30 moedas traidoras e diz: ‘Eis que vos trago o infernal dinheiro... Foi um crime de horror que em chamas me consome. Era inocente, justo, nada fez, eu sei’. E atira sobre o chão, desesperado como um cão maldito, o preço criminal da negra traição, e sai precipitado quase a desvairar-se... Ao longe contemplando as margens do Jordão onde JESUS pregara, exclama: ‘Traí! Ele Era tão bom, tão manso e caridoso. Ele que tinha somente nos lábios divinais a compaixão de um grande coração. Um vil, um traidor, um renegado eu sou! Porque viver tão mal ... tão criminoso? Só a morte será justiça para mim’. E coberto de remorso meditou: ‘Como me lembro ainda... Ele, JESUS, era tão bom, eu vi; A todos atendia e nunca condenou a quem perdão em súplicas pedia. Curava os cegos, levantava os mortos, e até os próprios inimigos perdoou. Ele JESUS era a bondade imensa’. E de repente perpassa-lhe na mente, do meigo nazareno, a cândida figura, sorvendo sobre a cruz o cálice da amargura. Era o remorso do seu crime horrendo, pois em visão, chegava-lhe JESUS, de lado trespassado trazendo-lhe perdão. E doido, desvairado, exclama: ‘Não! Não posso merecer de DEUS a compaixão. Meu crime é sem igual!’ E subindo veloz num galho de figueira, um laço preparou; E de olhos fitos na amplidão distante, o monstro se enforcou. E do Calvário além, pregado em uma cruz, Pendia ensanguentado o corpo de JESUS.

Não negues nunca o pão

Gióia Jr Não negues nunca o pão ao que te bate à porta, nem o trates jamais de maneira violenta. Amar é o sumo bem e, se o pão alimenta, o gesto vivifica e a palavra conforta. Vê no desconhecido a velha folha morta que, às tontas, voluteia agarrada à tormenta; ama-o como a ti mesmo. O amor constrói, sustenta, encoraja, encaminha, ensina, instrui e exorta. Não o faças, porém, visando recompensa: o interesse amesquinha e desvirtua a crença. Ama pelo prazer que o próprio amor produz. Ao que te pede o pão não o negues jamais, nem queiras ver, depois, teu nome nos jornais; faze-o, com humildade, em nome de Jesus!

Nada Era Dele

Disse um poeta um dia, fazendo referência ao mestre amado: “O berço que Ele usou na estrebaria, por acaso era dEle? ERA EMPRESTADO! E o manso jumentinho, em que, em Jerusalém, chegou montado e palmas recebeu pelo caminho? Por acaso era dEle? ERA EMPRESTADO! E o pão, o suave pão, que foi, por seu amor, multiplicado, alimentando toda a multidão – por acaso era dEle? ERA EMPRESTADO! E os peixes que comeu, junto ao lago e ficou alimentado, esse prato era Seu? ERA EMPRESTADO! E o famoso barquinho? Aquele em que ficou sentado, mostrando à multidão qual o caminho, por acaso era dEle? ERA EMPRESTADO! E o quarto em que ceou ao lado dos discípulos, ao lado de Judas que o traiu, de Pedro que o negou, por acaso era dEle? ERA EMPRESTADO! E o berço tumular, que depois do calvário foi usado e de onde havia de ressuscitar, o túmulo era dEle? ERA EMPRESTADO! Enfim, NADA ERA DELE! Mas a coroa que Ele usou na Cruz, E a Cruz que carregou e onde morreu, Essas eram, de fato de JESUS! Isso disse um poeta, certo dia, numa hora de busca da verdade; Mas não aceito essa filosofia que contraria a própria realidade... O berço, o jumentinho e o suave pão, Eram dEle a partir da criação, Ele os criou – assim diz a escritura ... Mas a Cruz que ele usou, a rude Cruz, A Cruz negra e mesquinha, onde meus crimes todos expiou, Essa não era Sua – ESSA CRUZ ERA MINHA! Autor: Gióia Junior

EU NÃO EXISTO SEM VOCÊ

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim Que nada nesse mundo levará você de mim Eu sei e você sabe que a distância não existe Que todo grande amor Só é bem grande se for triste Por isso, meu amor Não tenha medo de sofrer Que todos os caminhos Me encaminham pra você Assim como o oceano Só é belo com luar Assim como a canção Só tem razão se se cantar Assim como uma nuvem Só acontece se chover Assim como o poeta Só é grande se sofrer Assim como viver Sem ter amor não é viver Não há você sem mim Eu não existo sem você Fonte: Vinícius de Moraes

É Somente o Começo

Cruz de Malta Abril de 1980 Personagens: Mãe. Sara, noiva de Joel. Joel, noivo de Sara. Pedro, o apóstolo. Miriam, uma vizinha. Narrador: (Com voz empostada e firme, dá a seguinte explicação): Para melhor compreensão do conteúdo desta dramatização devo dizer que ela dá uma idéia do desânimo e expectativa que reinavam nos corações dos seguidores de Cristo após sua morte, e como a ressurreição tornou-se apenas o começo da grande obra que é a Igreja dele hoje. Esta mensagem é um desafio também para nós que temos a mesma responsabilidade de seus primeiros seguidores. Nós sabemos um pouco do que aconteceu naquele final de semana que envolveu a sexta feira santa e no domingo da ressurreição. Na sexta feira os discípulos tinham visto o Mestre Jesus morto numa cruz e para eles o fim de tudo havia chegado: era o fim de seus sonhos e esperanças. No domingo da ressurreição tudo se modificou: uma nova vida começou para eles e para os que os seguiram depois. Agora, levemos nossa imaginação para aquele dia que ficou entre aqueles dois importantes acontecimentos no registro da religião cristã: a Crucificação e a Ressurreição. Na vida, em todas as épocas, há um dia sobre o qual nada é escrito, um período de tempo desconhecido entre incidentes dramáticos que se relacionam. Entre a criação, no primeiro capítulo de Gênesis e a escolha do bel ou o mal, no terceiro capítulo; entre a conversão de Paulo e sua volta para Damasco; entre o noivado e o casamento – entre todos esses acontecimentos, alguma coisa se passa que fica desconhecido, pois o sentido profundo de dois acontecimentos se processa apensas no coração humano. Deve ter sido assim entre a sexta feira santa e o domingo da ressurreição, embora o que aconteceu não tenha sido registrado para nós. O drama que agora irá de desenrolar, leva-nos para aquele sábado melancólico e trágico quando a cruz tinha cumprido sua missão e a do túmulo ainda não tinha ainda sido realizada. Em imaginação, nós estamos em Jerusalém naquele sábado. Estamos numa pequena casa nos arredores da cidade, onde a mulher está pondo a mesa para a refeição da tarde. CENA I (Abre-se a cortina mostrando a sala. A mãe está colocando tigelas na mesa. Batem à porta). Mãe: (Logo) Quem é? Sara: (De fora) Sou eu, Sara. Mãe: Ah! Sara. (Vai a porta e recebe Sara). Tenho estado receosa de abrir a porta hoje. Sara: O Joel está em casa? Mãe: Não. Não o vejo desde hoje pela manhã. Há alguma dificuldade? Sara: Ora, mãe Raquel, não há nada para se preocupar. Eu venho da cidade e está tudo calmo por lá. Mãe: (Devagar) Calmo ... na cidade? E ontem eu pensei que a cidade nunca mais ficaria tranqüila. Tanto barulho e gritaria, a multidão empurrando e chorando. Eu tive medo, Sara, medo não sei de que, e até agora, não sei. Sara: Também senti medo. Havia alguma coisa na voz do povo, na maneira como eles gritavam e riam ... Mãe: Bem, tudo acabou, Sara. Sara: (Pensando) Acabou mesmo, mãe Raquel? Mãe: (Com vivacidade) Que quer dizer? O homem está morto. Sara: E nós o vimos crucificado. Mas Joel pensa que ele não está morto. Mãe: Bem, agora talvez ele possa esquecer esta tolice e voltar ao trabalho. Eu admito que este Jesus tinha alguma coisa que atraía. Ele pôs o nosso Joel a andar com a cabeças nas nuvens, mas, afinal, a gente tem que trabalhar e é tempo de vocês dois se casarem. Sara: Isto é Joel que resolve. Mãe: Talvez, mas você pode ajudá-lo a resolver. Sara: E a senhora acha que agora Joel esquecerá Jesus e voltará a velha vida? Mãe: Que há para lembrar? Uma fisionomia bondosa, uma voz atraente e algumas idéias estranhas... Depois de algum tempo estas coisas tornam-se meras e vagas lembranças... Sara: Antigamente eu diria que a senhora está com a razão, mas agora ... Joel parece tão mudado! Mãe: Enfeitiçado, talvez, mas, cabe a você, Sara, fazê-lo esquecer esta tolice. Quando Joel estiver casado e tiver sua própria família com a qual se preocupar e para a qual trabalhar, ele não terá muito tempo para divagar sobre idéias estranhas. Agora, Sara, deixe de se preocupar. Está quase na hora de nosso jantar, você, quer comer conosco? Sara: Obrigada mãe Raquel. Aceitarei tanto o seu conselho quanto o seu convite. Mãe: Você será uma boa filha, Sara. Olhe a estrada. Você vê Joel? Sara: (Olha pela janela) Não vejo ninguém. Espere. Há alguém sim. É Joel, e ele vem bem devagar. Mãe: Acende a lâmpada, sara, para que ele saiba que estamos aqui. (Sara acende a lâmpada que está sobre a mesa). Eu tenho pão que fiz ontem. Você precisa vir aqui qualquer hora para aprender como faço este pão que é o preferido de Joel. Sara: Há muitas coisas que eu preciso aprender. CENA II (Abre-se a porta e Joel entra). Mãe: Joel, meu filho, estávamos esperando por você. Joel: (Com indiferença) Sinto ter chegado atrasado. A senhora não devia ter esperado. (Sara adianta-se). Sara, prazer em vê-la. Sara: Boa noite, Joel. Sua mãe convidou-me para jantar com vocês. Joel: (Ainda com indiferença). Você é sempre bem-vinda, Sara. Mãe: Um dia desses será Sara quem servirá o jantar. (Joel atravessa a sala e senta-se no banco pondo as mãos no rosto). Sara: Quais são as novidades na cidade, Joel? Joel: (Sacudindo a cabeça) Não há nada. Eu não posso compreender ... Eu pensei que com certeza... Sara: Você preferiria o contrário? Joel: (Olha com vivacidade; ouve-se um ‘quê’ de animação em sua voz) O contrário? Que quer dizer, Sara? Sara: Ontem havia barulho e confusão na cidade. Você deve estar satisfeito porque hoje não há dificuldades. Joel: Sim. Estou contente porque não há confusão, mas eu não sei, parece que devia haver qualquer coisa. Um dia Jesus apareceu... Ele significava tanto para nós e agora ele partiu. Tudo acabou... mas não devia ter acabado. Mãe: sara tem razão. Você deveria estar contente por nada ter acontecido como conseqüência de você ter seguido este Jesus. Joel: (Pensativamente) Nada aconteceu?? Mãe: Tempo perdido... quando você poderia estar trabalhando... pondo de lado algum dinheirinho para você e Sara... Sara: Por favor, mãe Raquel. Mãe: Bem, tudo acabou. Venham, vamos comer. CENA III (Batem à porta). Mãe: Quem será? Joel: Eu abrirei a porta, mãe. (Abre a porta) Ah! Boa noite, Miriam. Miriam: (Chega-se à porta). Boa noite, Joel. Estou contente por você já estar em casa. Boa noite para todos. Mãe: Boa noite, Miriam. Não quer entrar? Miriam: Não. Não posso ficar. Sei que estão jantando, mas eu tinha que avisá-los. Mãe: Avisar-nos? Miriam: Avisar Joel. Meu marido soube hoje que os soldados romanos estão procurando todos os que eram seguidores de Jesus. Mãe: Os soldados romanos? Porquê? Miriam: Alguém disse ao meu marido que esses seguidores seriam presos. Porquê? Não sei. Mãe: Joel, que faremos? Joel: Não há motivos para preocupações. Estive na cidade o dia todo e ninguém me notou. Miriam: Esses romanos são assim. Eles esperam que a gente se despreocupe e depois lançam as garras. Mãe: Joel, o tio Miquéias poderia esconder você nas montanhas até o perigo passar. Joel: Não tenho medo, mãe. Miriam: Bem. Agora preciso voltar ao meu jantar. Mas tinha que avisá-los antes. Joel: Muito obrigado, Miriam. Mãe: Venha cá, Miriam, vou dar um pão para você levar. Miriam: Não posso recusar, Raquel. Espero que nada aconteça ao Joel. (Saem, Mãe e Miriam. Há um momento de silêncio. Joel vai até a janela. Sara o acompanha com os olhos e então fala com timidez). Sara: Há qualquer coisa que eu possa ajudar, Joel? Joel: O que? Perdoe-me... Eu não estava escutando. Sara: Eu sei que você está preocupado. Eu pensei que talvez eu poderia... Joel: Você é muito boa, Sara. Merece muita felicidade. Sara: Você é minha felicidade, Joel. Joel: (Senta-se em desespero). Que farei? Que farei? Sara: Que pode fazer, Joel. O homem está morto. Joel: Por favor. Sara: Mas você precisa se conformar, Joel. Eu sei que ele era muito importante para você e para muitos outros. Ele fez muitas coisas grandes e boas, mas agora ele partiu e a vida de vocês deve continuar. Joel: Eu sei que o que você diz é verdade. Mas mesmo assim... Sara: O que mais pode haver? Joel: Eu não sei, Sara, mas de qualquer jeito eu não posso acreditar que tudo o que ele ensinou, que tudo pelo qual ele lutava, deve terminar agora. Talvez ele tenha partido para sempre... mas, há aqueles que o ouviram e creram nele: nós podemos continuar. Sara: Mas talvez haja perigo. Você ouviu o que Miriam disse. Joel: É! Há isso. Mas agora não parece importante. Sara: E eu, Joel? Joel: Sara, eu não sei... eu não sei... (Joel põe as mãos no rosto. Sara pega as tigelas e torna a colocá-las na mesa. Entra a mãe). CENA IV Mãe: Porque os dois estão tão sérios? Venham, vamos comer e depois poderemos conversar. Joel: Sim, há muito que conversar. Mãe: Aquela Miriam e seus mexericos! O marido dela sempre conhece alguém que conhece alguém. Você acha que há alguma verdade no que ela diz, Joel? Agora que Jesus está morto, com certeza não haverá mais complicações. Joel: Não nos preocupemos hoje, mãe. Temos o seu pão delicioso. Hum!!, que cheiro bom, e eu estou morrendo de fome. Mãe: Joel, aqui estou a conversar e você provavelmente não comeu nada durante todo o dia. Sente Sara, você também. (Todos sentam-se à mesa. A mãe parte o pão e dá um pecado para Joel e outro para Sara). Joel: Ninguém é capaz de fazer um pão tão gostoso como a senhora, mãe. Qual é o seu segredo? Mãe: Segredo nenhum, Joel. (Batem à porta). Será que não poderemos ter uma refeição em paz? (Vai à janela e olha para fora e volta depressa para a mesa). Joel. É aquele homem que andava com Jesus. Aquele Pedro... Você acha ...? Joel: Eu falarei com ele mãe. A senhora e Sara terminem o seu jantar lá na cozinha. (A mãe e Sara pegam as tigelas e saem. Joel vai abrir a porta para Pedro). CENA V Joel: Que novidades há, Pedro? Pedro: (Entrando) Que novidades poderia haver? Joel: Eu não sei, Pedro, mas espero alguma coisa... Pedro: Andei o dia todo pelas montanhas, dizendo comigo mesmo: ‘Não pode ser, não pode ser!’ – Mas a resposta era sempre a mesma: ‘Mas é, mas é!’. Joel: eu sei, Pedro. O dia de ontem parece um sonho e continuo a esperar que eu acorde. Pedro: Nunca pensei que aquilo aconteceria, Joel. Eu tinha a certeza de que ele se salvaria. (Com angústia). Porquê não fez? Porquê? Joel: Não sei, Pedro. Pedro: Ele era meu amigo e eu o deixei morrer. Sim, primeiro feri um dos soldados que o vinha prender, mas Jesus impediu-me que continuasse. E naquela noite, mais tarde (deixa cair a cabeça) cheguei a negar que eu o conhecia. (Levanta a cabeça). Porque fomos covardes? Ao menos poderia falar a seu favor. Eu te afirmo, Joel, não pensei que chegasse a acontecer. Joel: Pedro, não se aflija tanto. Ainda há muito que fazer. Pedro: O que fazer... Como podemos pensar em trabalho, se nada tem valor sem ele? Joel: Mas você acha que ele gostaria que nós continuássemos? Pedro: Eu não posso pensar em mais nada, a não ser em seus olhos... a maneira como ele olhou para mim quando saiu da casa do Sumo Sacerdote. Joel: Você se lembra, Pedro, uma vez ele disse: ‘Eu voltarei’? Que quis ele dizer? Pedro: (Com um pouco de alegria na voz). Ele disse isso mesmo. Você acha...? (Sacode a cabeça tristemente). Mas não... Porque nos deixou? Nós precisamos tanto dele... Ele chamou-me ‘sua rocha’ e na hora que mais precisou de mim, eu o neguei... Joel: Todos nós o negamos, Pedro, mas eu tenho certeza de que sua obra não está terminada; ainda há muito para nós fazermos. Pedro: Mas que mensagem podemos oferecer? Aquele que veio falar da vida está morto. Joel: Você está cansado, Pedro. Vá para casa e descanse. Pela manhã as coisas parecerão melhores. Pedro: Pela manhã... Haverá outra manhã? Joel: Pela manhã resolveremos o que fazer. Pedro: Você tem razão. Minha mente está confusa com tanta tristeza. Eu virei amanhã de manhã. Joel: Até amanhã, meu amigo. (Joel abre a porta para Pedro e fica olhando-o sair. A mãe e Sara entram pela outra porta). CENA VI Mãe: Então, que disse Pedro? Está resolvido a voltar à pesca? Ouvi dizer que ele é bom pescador. Joel: O coração de Pedro está muito aflito. Ele ainda não sabe o que vai fazer. Mãe: E você, Joel? O que pretende fazer? Sara contou-me algumas coisas bem esquisitas. Será que você não pode assentar sua vida, Joel? Nós fomos muito pacientes quando você estava seguindo este homem, mas agora... Joel: A senhora acha que está tudo acabado, e talvez tenha razão, mas alguma coisa dentro de mim diz: ‘Espere, espere’. Mãe: (Com impaciência). Esperar? Esperar pelo quê? Joel: Isso eu não sei. Mas dê-me mais um dia. Se não tiver uma resposta amanhã, então virei para casa e viverei conforme a senhora deseja. Mãe: (Num tom mais bondoso). Eu não quero ser severa, filho, mas você é homem e deve fazer trabalho de homem. Agora está ficando tarde. Fique conosco esta noite, Sara. Pela manhã, bem, pela manhã nós veremos... Sara: Obrigada, Mãe Raquel. Boa noite, Joel. Espero pela manhã. Joel: (Vai até Sara, toma-lhe pela mão). Boa noite, Sara. Perdoe-me. Boa noite mamãe. Eu ficarei aqui um pouco ainda. Mãe: Está bem, Joel. (Saem, Raquel e Sara. Joel ajoelha-se perto da mesa). Joel: Oh! Deus. Ele nos ensinou a chamar-te Pai e agora na hora de aflição eu venho a ti. Ajuda-me a resolver o que devo fazer. (As luzes vão se apagando, ou a cortina é fechada por um minuto enquanto o piano ou o órgão toca uma música devocional. Depois as luzes se acendem mostrando que é dia. Joel está adormecido perto da cadeira. A mãe entra e vai até onde ele está). Mãe: Joel, Joel, acorde. É dia. Você dormiu aqui a noite toda. Joel: dia? É dia, mãe? Mãe: Sim. Uma linda manhã (Vai até a janela e abre-a) veja como o céu está azul O sol doura nas montanhas... Joel: (Vai até a janela vagarosamente). É dia... (Com entusiasmo) Olhe quem é que vem pela estrada... Mãe: (Olhando pela janela). É Pedro. Ele está correndo. Ó Joel, espero que não haja perigo. Talvez Miriam falasse a verdade... Talvez sejam os soldados romanos... Joel: Não. Não há perigo, mãe. Olhe o seu rosto. (Pedro começa a gritar como que de muito longe: ‘Joel! Ele ressuscitou! Ele ressuscitou!’ Várias vezes). Ele está rindo e gritando. (Abre a porta e sai correndo a gritar): O que é, Pedro? O que aconteceu? Sara: (Entrando) Alguém chamou, mãe Raquel? Mãe: Sara, é Pedro! Ele trouxe algumas notícias (Vão até a porta e olham para fora). Veja, ele e Joel estão falando ao mesmo tempo. Como estão entusiasmados. Repare seus rostos. ‘Ele ressuscitou! Ele ressuscitou!’ é o que gritava. Ah! Sara, eu desejei tanto que tudo houvesse acabado... Sara: (Ainda olhando para fora com vagar). Não, não está acabado, mãe Raquel. É somente o começo... (Leitura em Mc. 16.9-20, e em seguida toca-se ou canta-se um hino referente a ressurreição).
‘Because You Loved Me’ Celine Dion. Por Que Você Me Amou Por todas aquelas vezes que você me apoiou Por toda a verdade que você me fez enxergar Por toda a alegria que você trouxe para minha vida Por tudo de errado que você transformou em certo Por todo sonho que você tornou realidade Por todo o amor que encontrei em você Eu serei eternamente grata, meu bem Você é quem me sustentou Nunca me deixou cair Você é quem me acompanhou, através disso tudo Você foi minha força quando eu estive fraca Você foi minha voz quando eu não podia falar Você foi meus olhos quando eu não podia ver Você enxergou o melhor que havia em mim Me ergueu quando eu não conseguia alcançar Você me deu fé porque você acreditou Eu sou tudo o que sou porque você me amou Você me deu asas e me fez voar Você tocou minha mão e eu pude tocar o céu Eu perdi minha fé, você devolveu-a de volta pra mim Você disse que estrela nenhuma estava fora de alcance Você me apoiou e eu fiquei de pé Eu tive seu amor, eu tive isso tudo Sou grata por cada dia que você me deu Talvez eu não saiba tanto, mas eu sei que isto é verdade Eu fui abençoada porque fui amada por você Você foi minha força quando eu estive fraca Você foi minha voz quando eu não podia falar Você foi meus olhos quando eu não podia ver Você enxergou o melhor que havia em mim Me ergueu quando eu não conseguia alcançar Você me deu fé porque você acreditou Eu sou tudo o que sou porque você me amou Você sempre esteve lá para mim O vento carinhoso que me levava Uma luz no escuro, brilhando seu amor na minha vida Você tem sido minha inspiração Em meio a mentiras você foi a verdade Meu mundo é um lugar melhor por sua causa Você foi minha força quando eu estive fraca Você foi minha voz quando eu não podia falar Você foi meus olhos quando eu não podia ver Você enxergou o melhor que havia em mim Me ergueu quando eu não conseguia alcançar Você me deu fé porque você acreditou Eu sou tudo o que sou porque você me amou Because You Loved Me For all those times you stood by me. For all the truth that you made me see. For all the joy you brought to my life. For all the wrong that you made right. For every dream you made come true. For all the love I found in you I'll be forever thankful baby. You're the one who held me up. Never let me fall. You're the one who saw me through, though it all. You were my strength when I was weak. You were my voice when I couldn't speak. You were my eyes when couldn't see. You saw the best there was in me. Lift me up when I couldn't reach. You gave me faith 'coz you believed. I'm everything I'm Because you loved me. You gave me wings and made me fly. You touched my hand I could touch the sky. I lost my faith, you gave it back to me. You said no star was out of reach. You stood by me and I stood tall. I had your love I had it all. I'm grateful for each day you gave me. Maybe I don't know that much, but I know this much is true. I was blessed because I was loved by you. You were my strength when I was weak. You were my voice when I couldn't speak. You were my eyes when couldn't see. You saw the best there was in me. Lift me up when I couldn´t reach. You gave me faith ´coz you believed. I'm everything I am Because you loved me. You were always there for me. The tender wind that carried me. A light in the dark shining your love into my life. You've been my inspiration. Through the lies you were the truth. My world is a better place because of you. You were my strength when I was weak. You were my voice when I couldn't speak. You were my eyes when couldn't see. You saw the best there was in me. Lift me up when I couldn't reach. You gave me faith ´coz you believed. I'm everything I am Because you loved me.

A Porta do Céu - Teatro Evangelístico de Impacto

PERSONAGENS: ANJO: Com vestiduras brancas, coroa na cabeça, com luvas e segurando uma espada, ante a porta. O RICO: Roupas finas, bem vestido, com saquitel de moedas, dinheiro, talões de cheques, cartões. A RELIGIOSA: Com um xale preto, carregando nas mãos um livrinho enrolado. A DESCUIDADA: Descalça. Vestidos bem simples e cabelos despenteados. O SÁBIO: Com alguns livros nas mãos, mostrando-se bastante culto. O NOBRE: Bem vestido um pouco espantado. O CRISTÃO: Com a Bíblia na mão, vestido decentemente simples. A PORTA: Um portal dourado ou prateado com intenso brilho. NARRADOR: Uma pessoa com forte e empostada. NARRADOR: As Escrituras Sagradas, A Bíblia, que é a Palavra de Deus, nos traz a revelação de Deus e de seu amor cuidadoso por cada pessoa. Apresenta o homem como criatura de Deus, contudo atingido e corrompido pelo pecado. Em decorrência do pecado, o homem se encontra perdido e longe de Deus, precisando da salvação ou cancelamento de seus pecados. As Escrituras nos informam que há somente um meio pelo qual importa que os homens possam ser libertos de suas culpas e pecados e, conseqüentemente, salvos. A verdade que se apresenta neste drama se desenrola às portas do Céu. No momento em que cada pessoa morre, a mesma se depara com os portões da eternidade: ali, diz a Bíblia, toma-se um de dois caminhos: Uns tomarão o caminho da esquerda e encontrarão o pior estado de vida jamais imaginado, onde há dores, choro e ranger de dentes. Ali o pranto e a dor não cessam e sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos. Outros tomarão o caminho da direita e se achegarão à presença bendita e gloriosa DAQUELE que vive eternamente, o Soberano Senhor. Ali há vida e alegria em abundância e os que ali se acharem desfrutarão para sempre da companhia, comunhão e qualidade de vida do próprio Deus. Que caminho você seguirá? Preste muita atenção e descubra a chave que abre a porta que te espera. ANJO: Esta aqui é a porta da cidade eterna. Por aqui é a entrada celestial. Por aqui se vê a glória. A sempre bendita e eterna Jerusalém se vê neste portal. O reino feliz da bem-aventurança, onde não há pecado e não existe o mal. O céu sempre azul, o mar como bonança. As ruas são de ouro e de jaspe luzente. Sempre a mesma paz os corações alcançam. Ali não haverá aflito nem descontente, e não se encontra nenhuma enfermidade, pois a árvore da vida é a saúde das gentes. Quantas belezas novas existem na cidade. Que melodioso som nos altos céus percorre. Que imensa alegria há ali por toda a eternidade. Oh! Quão felizes são os que a carreira corre, e guardam sempre a fé no eterno salvador. E quão felizes são os crentes quando morrem, pois vão enfim, descansar de seus labores. Ouve de Jesus Cristo a voz doce e terna: ‘Oh! Vinde já benditos do Senhor, este é o caminho que conduz à cidade eterna’. RICO: É bem verdade o que dizes, senhor(a). Existe para a alma o gozo eterno. Deixe-me entrar, quero desfrutar agora, pois dentro do meu peito trago o inferno. Nunca tive na vida um dia ao menos de sossego, de paz ou de alegria. Nunca os meus dias foram serenos. Sempre lutei e vivi em agonia. A sede do dinheiro me queimava. Andei vagando em busca de tesouros. Em ânsias tornou-se a minha mente escrava. Eu só queria... eu só amava o dinheiro. Enriqueci. Acumulei riquezas, mas nunca adormeci as ânsias da alma. Minha vida foi cheia de incertezas, cheia de sustos, sem uma hora de calma. Mas rico sou. Se além deste portal há livramento para o cativeiro, posso comprá-lo. Pagarei o quanto devo. Quero trocá-lo por meu dinheiro. Deixa-me entrar. Vendei-me a entrada para o gozo eterno. (Tira moedas de seu saquitel, carteira, cartões e talões de cheque às mãos, e os atira aos poucos aos pés do anjo). Uma fortuna aos seus pés. Abra-me o céu. Quero fugir do inferno. ANJO: Néscio! Pretende comprar o céu a custa de ouro? À troca de riquezas Deus não se vende. A entrada além do véu não se adquire a troca de dinheiro e riquezas. RICO: Oh! Deixe-me entrar! Deixe-me entrar! Não quero morrer! Deixe-me fugir do inferno. (Aos prantos). ANJO: A entrada por aqui é proibida aos que não trazem o justo passaporte. Este é o caminho que conduz a vida. Ali é o reino do pecado e morte. Aparta-te daqui maldito. RICO: (Sai chorando a lamentar-se para o lugar apontado pelo anjo como sendo o lugar de tormentos). DESCUIDADA: Além deste portal a glória existe. O sumo bem, o gozo perenal. A vida me foi imensamente triste! Deixa-me passar esta porta! ANJO: A entrada por aqui é proibida aos que não trazem o justo passaporte. Quem jamais cogitou a vida apenas sofrerá a eterna morte. DESCUIDADA: Mas, porque não? Que mal tenho feito para se impedir a minha entrada? Nunca na terra tive um só defeito. Apenas vivi despreocupadamente. Vivi como toda gente vive: Fui a bailes, teatros e distrações. Procurei ser feliz em tudo; porém, pecado grave nunca cometi. Não me afoguei no oceano das paixões, não matei, não roubei, nem prejudiquei a ninguém na vida. Oh deixa-me passar por este portal. Quero viver a glória prometida. ANJO: A entrada por aqui é proibida aos que não trazem o justo passaporte. Este é o caminho que conduz à vida. Ali é o caminho de pecado e morte. DESCUIDADA: Mas, Deus que é Pai eterno, doce e compassivo, imensamente bom e complacente, não deixará um filho ainda que altivo, para sofrer no inferno eternamente. Que pai condenará um filho amado? Que pai, vendo um filho desgraçado não cuidará de salvá-lo do mau trilho? Espero entrar no céu e ser feliz. De perto quero ouvir o harmonioso som que vem de lá, pois a Escritura diz que Deus é bom, imensamente bom. ANJO: Deus é bom. Ele é mais que bom: Ele é amor e graça. Mas também é justiça e santidade! Não pode entrar no céu um pecador manchado de pecado e iniqüidade. DESCUIDADA: (Sai igualmente em desespero e choro, lamentando sua sorte junto com o rico). RELIGIOSA: Na bem-aventurança quero entrar! Ninguém me impedirá o gozo eterno, pois vivi nas igrejas a rezar, tal era o horror que me trazia o inferno. Trazia no meu pescoço a santa imagem, o crucifixo de adoração. Freqüentei a Igreja com coragem, até mesmo quando falavam mal da religião. Acompanhei as procissões nas ruas. Mil vezes comunguei com reverência. Massacrei as minhas carnes nos horrores legais da penitência. Pratiquei atos religiosos, conforme ordenavam os sacerdotes. Desfiz-me de prazeres custosos, dividi com os pobres os meus dotes. Comparecia a igreja a cada dia. Jamais abandonei os símbolos religiosos que me garantiam a sorte e a bênção. Cumpri na terra tudo que devia. Deixa-me entrar no santuário. ANJO: A entrada por aqui é proibida aos que não trazem o justo passaporte. Este é o caminho que conduz à vida. Ali é o caminho de pecado e morte. RELIGIOSA: (Sai em desespero e choro. Após um tempo lamentando sua sorte junto com o Rico e a Despreocupada, voltam os três, e imploram): Oh deixe-nos entrar na vida eterna! Não nos condena à segunda morte! (Após um tempo de lamentações e súplicas desesperadoras, os três saem e ficam chorando à porta do inferno). NOBRE: (Achega-se todo emplumado, com ares de superioridade e, sem dizer palavra, tenta entrar). ANJO: A entrada por aqui é proibida aos que não trazem o justo passaporte. Este é o caminho que conduz à vida. Ali é o caminho de pecado e morte. NOBRE: Deixe-me entrar! ANJO: A entrada por aqui é proibida aos que não trazem o justo passaporte. Este é o caminho que conduz à vida. Ali é o caminho de pecado e morte. NOBRE: Não vês pelo meu porte que nasci de uma classe preferida? Mereço um cetro, um reino, uma coroa. Tenho privilégios, com certeza. Trago em minhas veias o sangue azul e confio no meu direito da minha nobreza. ANJO: Meu nobre amigo. Grande é o seu engano. Pensas que condições de nascimento favorecem a entrada no céu? Ou pensas que por seres de uma família mais abastada e de uma classe social mais polida e elevada vais te livrar do eterno tormento? O sangue de toda a humanidade é igual. Toda ela é coberta de maldade e todos, igualmente, manchados pelo pecado e iniqüidade. Somente pela fé em Jesus, reconhecendo-o como o Senhor e Deus, como aquele que morreu pelos pecados seus, é que o pecador vai ao céu. Os que nele creram, nasceram de novo, tiveram seus corações lavados e possuem uma nova marca que os identifica nesta entrada gloriosa. Vejo em seu coração a ausência desta marca de luz: o selo do Espírito de Jesus. Aparta-te daqui. Seu lugar é o caminho a esquerda e sua sorte é com os que perdidos estarão eternamente. NOBRE: (Sai chorando e coloca-se em desespero ao lado dos demais). SÁBIO: Quero entrar. Tenho o direito de passaporte. Vale o meu saber. Fui na terra um homem perfeito. O que eu sei e o que sou hão de me valer. ANJO: A entrada por aqui é proibida aos que não trazem o justo passaporte. Este é o caminho que conduz à vida. Ali é o caminho de pecado e morte. SÁBIO: Minha filosofia dá-me aspecto por onde eu queira impávido passar. As doutrinas que sei e que professo são mais profundas que o mar. ANJO: Não poderás entrar no céu. Grande cientista és. Você é um homem muito sábio, culto e inteligente, conheces todas as doutrinas, mas não conhece a salvação. Tudo isso é nada e se transforma em agonia. SÁBIO: Tudo é mera evolução. Um homem cresce e nasce e em seu destino não há variação. Muda-se apenas a forma. A ciência continua sempre igual. Isto é uma lei. Quero passagem. A ciência será coisa inválida? Não tem valor o saber e a filosofia? ANJO: Nada disto se aproveita para entrar. Nem as vossas teorias, nem as vossas filosofias. Aparta-te daqui. Este é o caminho que conduz à vida. Seu é o caminho de pecado e morte. SÁBIO: (Sai em choro e ajunta-se aos demais). CRISTÃO: Este é o caminho que conduz a vida. Sei que Jesus está além deste portal. Já pode entrar uma alma arrependida? Um pecador pode entrar no céu? ANJO: A entrada por aqui é proibida aos que não trazem o justo passaporte. Este é o caminho que conduz à vida. Ali é o caminho de pecado e morte. CRISTÃO: Tenho passagem para a eterna vida. Deu-me Jesus em sua triste morte, quando no Calvário, suportou meus pecados e minha condenação diante da santidade do Deus Todo-poderoso. ANJO: Que fizeste dos teus pecados. Dos teus muitíssimos pecados? CRISTÃO: Eu cri e creio no Senhor dos céus. O precioso sangue de Jesus derramado naquela triste cruz foi o preço pago para meu resgate e salvação. Nada que eu quisesse ou fizesse poderia me livrar dos meus pecados. Herdei esta condição. Como uma doença incurável o pecado me cercava e durante muito tempo em minha vida, me dominava. Mas a verdade do Evangelho se tornou clara diante de meus olhos através das verdades trazidas nas Escrituras, a Bíblia Sagrada. Graças e glórias ao Espírito Santo de Deus, que me iluminou para compreender a verdade. Fui lavado. Mais que isso, fui regenerado, gerado de novo, nascido de novo, cancelados foram os meus pecados e fui feito uma nova criatura. Não me perguntes mais uma só coisa. A minha vida nisto se reduz: Eu cri e creio. A minha fé repousa no doce nome, no salvador Jesus. ANJO: Oh, quão felizes os crentes quando morrem, pois vão gozar a vida no fim de seus labores. Ouve de Jesus a voz doce e terna: ‘Ó, vinde já, benditos do Senhor! Entrem e tomem posse do Reino de meu Pai’. E quanto a vós outros assim diz o Senhor: ‘Apartai-vos malditos para o inferno preparado para o diabo e seus anjos, antes da fundação do mundo. Ali é o reino de trevas, onde eternamente haverá choro e ranger de dentes’. (Abraçados, ambos entram pela porta enquanto um hino é tocado suavemente. Os outros se desesperam enquanto se fecham as cortinas).
O Jardineiro e a Rosa Emiliano 26/02/2016 – 08.04am Conheci um cidadão que de jardineiro não tinha nada não. Esse cidadão, sem muito conhecimento então, Afeito aos sentimentos e emoções do coração, Admirava a singeleza e beleza das flores do canhão . E no ir e vir dos dias e da vida, Continuamente mirando o horizonte na lida, Limitado aos paredões impressionantes do vale em questão, O nobre cidadão, que de jardineiro não tinha nada não, Inclinou-se a fazer um jardim, que de flores, plurais havia não. Foi uma rosa, delicada, perfumada e meiga; Eivada de tons e semitons, de detalhes alhures Que do ogro cidadão, roubou-lhe a atenção, E incontinenti, escravizou o incauto coração. Afofou a terra, sachou-a e insumos colocou. Buscou a muda da espécie, sem titubeios, em mira. Com rústica delicadeza, em contrastes e contradições O jardineiro, que de jardineiro não havia, Dedicava seu suor em todos os seus dias, À cuidar da rosa, que dentre tantas só ela lhe havia. Hora se alegrava a rosa, hora se alegrava o plebeu, Hora se alegravam os dois, um quê de belo, imagino eu. E assim, a vida a fio, transcorria em desatinos e harmonias Entre espinhos e desvarios, a felicidade intempestil. E assim a vida foi, e assim a vida vai, A rosa, feliz e infeliz, ora, flores ou botões, Em espinhos e senões, Convive com o ogro, ora nobre, ora bobo, Buscando a felicidade, com a rosa no canhão.

O FREMIDO DA ALMA

12-01-11 - 04.04h A alma em dor lancina pulsações que a mente não imagina. Inquieta, geme e se angustia em busca do que lhe amenize, Conclama entre suspiros quem lhe pode tirar da crise Assim se debate e freme desejosa de respirar ares amenos No auge de sua dor, espera que o alento acene. No auge de sua espera, que novos ventos lhe soprem a face, Enaltece o desejo e lhe renovem o puro ardor; Crivada de uma saudade que lhe arrebata as forças Envelhece ao pensar que essa dor não passe Prossegue em busca de esperança, pois o alvo é o amor. No ardor da esperança essa alma freme! No labor da paciência essa alma geme! Delira enquanto aguarda o momento em que o sorriso se abra Desmontando a prisão e o calabouço que lhe encerrara; Revendo o sol e a luz que à vida traz vida Ajuntando os cacos que da esperança sobrara Acatando a brisa que lhe roça a face Aprendendo novos tons e novos sons da harmonia. Dissolvendo a dor enquanto das cinzas renasce, A lenda se torna fato e de novo a vida cria. O adjunto que desempenha seu papel e boa notícia lhe dá Espera socorrer a alma aflita convertendo-a em Hefzi-bá# (Is. 62.4). Asseverando agora uma nova coragem possuir, Ressabiada pela dor que agora já é passada Dispara seu olhar e ânimo rumo ao futuro que acena Enlevando seu ser no encontro do outro ser Engraçando-se entre risos e emoções diversas Paralisando quantos não acreditaram na sina Aninhando com amor os que olharam na neblina Acoçando-se na alegria esperada em meio a dor palmilhada Arranhada, mas restaurada pela espera realizada. Enamorar-se da esperança em meio a dor que agoniza Encimou aos píncaros o desejo de uma nova vida Dignificando o ser que buscava ser, ao ser amada e não banida. Ninhos alegres se visualizam num futuro próximo Balançando ao fragor das débeis aragens de inverno Descaminhos passados de lembranças tristes ficaram esquecidos Para então dar lugar ao êxtase que de prazer comove Aferroa, brava guerreira, sua montaria, e prepara-te para conquistar, Cara amiga, que de dores frementes conquistou o zênite etéreo.

Não desista!

Emiliano 2010 Quando tudo não vai bem, como vedes que pode acontecer, Quando a estrada só vai para cima e nunca parece descer, Quando o dinheiro é pouco, e as dívidas como o mar, Quando se quer sorrir, mas só se pode chorar, Quando há cuidados que nos querem oprimir, É preciso descansar, mas nunca desistir! Com suas reviravoltas, A vida vai correndo e, Acabamos aprendendo, Que muitos erros Poderiam ser evitados Se tivéssemos persistido E não desanimado. Não desista ainda que a coisa não caminhe, Você pode vencer, com só mais uma forcinha! Sucesso se projeta como o fracasso às avessas, Como o brilho ao redor da nuvem mais espessa. Você nunca sabe se está prestes o seu alvo atingir, Pode estar chegando, embora não o possa discernir; Portanto, continue lutando quando a dura luta chegar, Quando tudo parece pior é que você não pode desanimar!

MINHA TAÇA DE SONHOS

03-05 - 11.00hs Passo horas a refletir, olhando de longe a vida como numa bela miragem, Saber que o futuro não está em nossas mãos, que em tudo se parece vão Que escorre por entre nossos dedos, escapando liso como água ou gelo E a alma fica abatida, ao ver a vida à frente como uma aragem. Desço do patamar dos sonhos e olho pelas ruas empoeiradas Por onde anda minha alma no dia-a-dia da realidade nua. Ecoa o forte sentimento de carência de algo ou alguém Que se tornou então parte de meu mundo, certo e real, Não a mera sombra de um mundo incerto e ideal. Até quando a realidade suportaria a miragem? Ou como viveria olhando longe uma imagem, Sem poder tocar, poder sentir ou degustar? O alento que acalenta a alma, e a realiza A faz olhar e sentir o outro qual leve brisa Que como a água cristalina em um dia seco Toca seu rosto esparso na penumbra fina Com a pele tão sedosa, macia e gostosa. Assim, numa angústia que jamais acaba A alma sonha com a pessoa amada Com seus olhos lindos, penetrantes Com seu cabelo liso e deslizante Com seu cheiro aromatizante Seu sabor, droga alucinante Um sonho eternizante Onde o sonho se faz Bastante. Assim, aguarda ofegante, O momento que será o bastante Para lhe dar meu amor, amante, E realizarei o sonho demais errante.

MEUS 56

Há 56 anos idos nesta data, à 01.30h da madruga, punha a carinha na luz deste mundo um lindo (presumo) bebê. Antes disto, há alguns milhares de anos antes, foi lavrado um decreto pelo Imperador do Universo onde cada dia da existência desse bebê já estava escrito e determinado. Do nascimento até aqui a vida deu muitas voltas. Numa dessas voltas o protagonista conheceu o Imperador do Universo e se rendeu a Ele como súdito e servo. O Imperador, na sua graciosa benevolência o acolheu como filho, por meio da adoção. Em outras voltas do mundo o Imperador do Universo o chamou para trabalhar no Departamento de Comunicação e Marketing do Reino. Em outras voltas pôde conhecer Iris Torres da Cunha, aquela que seria sua companheira e esposa. Em outras voltas diferentes foram-lhes nascendo os filhotes :Ásbel Torres da Cunha, Adriel Torres, André Torres da Cunha e Maressa Torres Nesse percurso todo e em tantas voltas que essa vida dá, muitos amigos, caros e preciosos, foram se achegando. Você que me lê pode ser um desses amigos. Hoje é a data de celebração dos meus 56 anos. Louvo ao meu Deus, o Imperador do Universo porque nesta data não estou sozinho, mas além da família, rodeado de amigos em diversos pontos do globo, se alegrando comigo. Obrigado a todos.

Mamãe!

Te amo, como boa Mãe de nossos filhos. Íris, te amo Como Mulher que é, Ora menina ingênua, Ora como mulher madura que sabe o que quer, Bonita, atraente e muito mulher! Eu, aquele que te conquistou um dia.

O Que Será Que Será? Lágrimas enxugadas, ou lágrimas às enxurradas?

Sabe que a esta questão lhe cabe uma decisão? O problema é o pecado que, lhe proporciona a culpa e então a inevitável condenação, diante do único soberano Deus justo e santo. Embora soberano, justo e santo, também esposa atributos como amor, misericórdia e graça, e por causa dos quais pode ao pecador justificar sem jaça. Então, paira ante a ti decisão: prostrar-lhe aos pés e rogar-lhe o perdão, mediante quebrantado coração; ou, blasonar-se o bastante, e em si mesmo encontrar-se confiante. À segunda decisão, de em si mesmo confiar, também terá que por si mesmo sua culpa abonar, que lhe será a eternidade tempo a fartar, para tal tarefa impossível realizar, e então como nunca se dará, ao invés de culpas canceladas, só lhe restarão lágrimas às enxurradas. À primeira decisão lhe caberá a promessa cumprida, onde Jesus, o Filho de Deus, lhe garante a vida, e apesar de sua culpa comprovada, sem garantia própria ou ação fiada, Ele lhe garante para sempre: terá suas lágrimas enxugadas. José Emiliano da Cunha 28/04/2015

JUNTOS

2011 Contigo atravessarei o deserto e o mundo Enfrentarei até mesmo o terror da morte Posso ver a verdade e perder o medo Passo a passo contigo buscarei o norte Meus segredos e meu reino por ti deixarei Até mesmo minha rápida noite e meu silêncio Como em espelho verei em ti minha vida, E em ti minha imagem contemplarei Juntos alcançaremos os jardins do paraíso Mesmo que o tempo conosco seja duro Juntos a felicidade se torna nua E com ela o tempo se torna evento.

IRIS, VOCÊ ME FEZ FALTA.

Interessante... notável... maravilhoso... Real, tão real aquele fato bíblico, Isto que foi dito no Paraíso: Serão os dois uma só carne. Vi como nunca antes, experimentei como jamais... Ondas de solidão me invadiram... Coisa ainda não experimentada... Era você, amor, que me faltava! Me deu vontade de correr, de gritar você E ficar ali, ao seu lado... quieto. Ficar sem dizer nada, E ver que você me entendia em tudo Zagucho, ao seu lado. Ficar sozinho de novo é repetir a dor. Amor, talvez você não pudesse ter, Límpido, diante de você, claro... Tão claro como o sol, A falta que você me fez... Seu, Mi. 20/09/1986